segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A CONSCIÊNCIA DA RESPONSABILIDADE: "A DECISÃO RESPONSÁVEL É AQUELA QUE APONTA NO SENTIDO DE MANTER AS CONQUISTAS": Marina Silva

Estamos nos últimos dias da campanha eleitoral para a Presidência da República. Uma campanha que se desenvolveu sob a marca da manipulação da informação, dos factóides, das fraudes. Como se não bastasse, ainda trouxeram o Cristo Jesus para dentro da disputa. 

Lamento que o Presidente tenha se envolvido tão visceralmente. Lamento que não tenha se licenciado para poder então, livremente, dedicar-se à sua candidata.

Lamento que em nossa sociedade, como disse Marina Silva em entrevista à IstoÉ (Vermelhas), o fazer política ainda seja dominado por pessoas que pensam-se enquanto donas dos votos dos eleitores, com direito de manejá-los em apoio à esse ou àquele candidato. 

Lembro-me das eleições no Uruguai, quando a jornalista pergunta a uma pessoa (desculpem, não me recordo a fonte) como explicar o fato de o presidente em final do mandato  ser de esquerda e findar sua gestão com alto índice de aprovação e, no entanto, o seu candidato não apresentar bom desempenho nas intenções de voto. A resposta foi que, para os uruguaios, se o presidente em exercício resolvesse ocupar a cena para pedir votos para o seu candidato seria severamente rechaçado - o povo não admitiria a tentativa de que alguem lhe induzisse o voto.

Aqui em nossa paisagem ainda não atingimos semelhante entendimento. Daí vermos esse leilão de apoiamentos, cada qual desfiando os nomes daqueles que lhes aderiram, numa claríssima tentativa de conduzir a vontade do eleitorado. 

Mas agora não é hora de pensar no ideal de sociedade política. A hora agora é de agir. E agir no sentido de reunir elementos que auxiliem a tomar a decisão, de fazer a escolha devida.

Esse é o grande ponto, em minha opinião. Entendo que, na vida, há situações nas quais simplesmente não cabe "manter-se neutro", se alhear, não exercer a escolha.

Mais do que a obrigação legal de comparecer à seção eleitoral para assim obter o recibo de quitação, há o compromisso com os destinos do país. E não cabe esse carcomido refrão de que "nada adianta", que "não tem jeito" etc. 

A luta para que conquistássemos o direito universal (extensivo à todos) de votar não veio de graça. Foram batalhas longas, penosas. As camadas subalternas de nossa sociedade - negros, pobres, mulheres, analfabetos - foram tradicionalmente afastadas do direito de participar da escolha de quem fosse gerir os destinos do país.

Agora, diante das mazelas do sistema político, muitos são os integrantes dessas mesmas camadas que agora abdicam solenemente do direito de tomar parte nesse processo. O desencanto e a desinformação lhes governam. Perderam a noção de que são sujeitos da história tanto quanto de sua história.


Elevadíssimo é o índice de pessoas que apenas se informam a partir das redes comerciais de televisão. Outro tanto simplesmente diz que "não quer saber", desconsiderando que, apesar de sua omissão, seja lá o que faça o/a novo/a ocupante do cargo máximo da República, as consequências virão sobre si. 

Desiludidos, descrentes, muitos canalisam  seu senso crítico e sua descrença nesse modelo de fazer política no voto pilheresco - votam em animais, palhaços, ou qualquer outro que ostente visibilidade. São responsáveis pelas consequências, entretanto. Quer queiram, ou não. Quer tenham ou não consciência de sua nefasta contribuição para a manutenção dessa realidade que tanto critica.

De minha parte, continuo buscando chamar atenção para a seriedade do voto. Tantos anos estivemos - pela ditadura militar - subtraídos desse direito! Por tanto tempo fomos privados de seu exercício, restrito que estava aos senhores de nosso destino.

O exercício do direito de escolha decerto que implica responsabilidade diante das consequências. Entretanto, não vejo como se poder levar a vida sob a marquise, debaixo da cama, das cobertas. Ou do manto da invisibilidade.

É imprescindível - nesse momento mais do que nunca - que tenhamos a coragem de tomar nas mãos essa obrigação que é nossa: por nós, por nossos filhos e filhas, netas e netos. E com toda a seriedade que a envolve, buscar ampliar o leque de informações, de modo a construir com alguma consistência além da manipulação posta (sobretudo pelas redes oligopolistas de televisão e jornais) o convencimento próprio.

Os veículos virtuais que a mim me parecem sérios já os declinei na postagem anterior. PMais do que oportunoo texto de Gilson Caroni Filho, do sítio da Carta Maior:
A campanha oposicionista padece de velhos vícios e truncamentos de origem. Parece acreditar que o povo, em toda a parte, é uma entidade incapaz e como tal deve ser tratado, sob pena de hecatombe social iminente. Deve-se também ameaçar a esquerda com a hipótese sempre latente de um golpe de Estado. E lembrar aos setores populares, principalmente à nova classe média, que se eles não tiverem juízo virão aí os bichos papões e, com eles, os massacres dos Kulaks, as igrejas fechadas, os asilos psiquiátricos, a supressão da liberdade, em suma, o socialismo sem rosto humano. Essa agenda está superada, mas seu simples ressurgimento deve nos remeter a pontos importantes. Se atualmente é difícil calar organizações que expressam as demandas dos seus membros e representados, como é o caso do MST, do movimento estudantil e do mundo do trabalho, muitos obstáculos ainda têm que ser ultrapassados. Exigir liberdades democráticas não é uma gesticulação romântica, desde que se dêem consequências às suas implicações. É preciso apostar na organização crescente das forças sociais com o objetivo de consolidar uma saída definitivamente nacional e popular para temas que vão da questão agrária ao controle social dos meios de comunicação. A análise histórica mostra que, quando não avançamos na democracia concreta, damos aos seus adversários tempo para que se reorganizem, utilizando as oficinas de consenso para caluniar, difamar, fazer o que for necessário, para deter o ímpeto vital que lhes ameaça. Nos dias de hoje, é preciso senso crítico sempre atilado, não se deixar envolver pela vaga e traiçoeira tese do aperfeiçoamento democrático a qualquer preço, pois as forças retrógadas costumam cobrar bem caro por nossas distrações ou equívocos. Por tudo isso, a eleição de Dilma Rousseff é um passo decisivo para erradicarmos de vez o cartorialismo econômico, a indiferença moral e a incompetência administrativa que marcaram vários governos até 2003.
 
Acrescentaria o sítio da revista Istoé - a entrevista com a ex-ministra Marina Silva ("'MUITA GENTE NO PV VOTA EM DILMA' - Embora não declare seu voto, a senadora Marina Silva diz que a decisão responsável é aquela que aponta no sentido de se 'manter as conquistas'") e a matéria de Capa da edição desta semana (27.10): "Como a central de boatos do candidato José Serra armou com a TFP, monarquistas, integralistas e radicais religiosos um esquema de difamação e distribuição de informações falsas, atuando nos subterrâneos da campanha presidencial - SANTOS E SANTINHOS DE UMA GUERRA SUJA".

Embora possamos afirmar que essas não foram as condições ideais - condutas, apresentações e discussões das propostas, a ascenção da religiosidade sobre a esfera cívica, o marketing ainda dominando a propaganda obrigatória, - é preciso escolher.

Com toda a seriedade e retidão. Para além de boatos, santinhos, desencantos. Como disse Marina Silva (mais uma vez), precisamos votar com a nossa responsabilidade ("Vou votar com a responsabilidade que tenho com o meu voto.").

E, nesse momento, ainda segundo a mesma Marina, "a decisão responsável é aquela que aponta no sentido de manter as conquistas".

Tambem fico com Marina quando ela diz:

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