quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Carta aberta ao Carlos Tufvesson

Carlos, acabo de ler a matéria em O Globo de hoje sobre o seu aceite ao convite do Prefeito para Conduzir a Coordenadoria Especial de Assuntos da Diversidade Sexual.

Ali, você apresenta dois grandes eixos para a sua futura atuação: a) fortalecer a ação das ONGs LGBTs em suas áreas de especialização; e b) “criar um canal de comunicação para falar das leis que protegem as minorias e explicar que homofobia ... é apenas ... preconceito.”

Na mesma matéria, você deixa entreaberta a porta para uma eventual futura candidatura a cargo eletivo.

Quem o conhece – por pouco que seja - sabe que você é capaz de ir muito além da construção de um canal de comunicação/conscientização acerca da (parca) legislação (meramente administrativa) que visa coibir manifestações discriminatórias com base da orientação sexual e identidade de gênero (aliás, mera tentativa de fazer cumprir o preceito constitucional). Também sabe que o seu perfil não é absolutamente (e você mesmo já o reconheceu) o de um parlamentar.

– Seu estilo é de ação; de fazer acontecer. Ainda quando desconheça o como, busca se acercar de quem o assessore para lhe auxiliar a conseguir chegar aonde quer e sabe que chegará.

Temos muitos pontos de divergência, formas distintas de olhar/ler o mundo e a política (e os políticos). Isso, entretanto, não me leva a ignorar que, reunindo o capital político que você possui e a ânsia de fazer acontecer, pode, sim, colaborar e muito para o processo de reconhecimento dos direitos da população de LGBTs.

As condições históricas lhe colocaram na posição de cabeça de área. Cabe a você conduzir a bola que está em seus pés, rumo à baliza, para um futuro menos insosso na vida de travestis, transexuais, gays, lésbicas, sobretudo aquelas mais vulneráveis, descapitalizadas.

Que você seja capaz de se assessorar de pessoas afinadas com seu estilo de ser e ver o mundo, não apenas  para construir canais efetivos de comunicação (e prestação de contas) com o segmento da população para o bem da qual trabalhará (e já trabalha), mas que consiga, com a sua criatividade e capital político, elaborar, em parceria com a sociedade civil (empresários incluídos) e o público-alvo, mecanismos de inserção social para essa parcela mais frágil: meios de capacitação profissional diversificada, dotando-lhes da necessária possibilidade de escolha de alternativa profissional, nela incluída a necessária e inafastável formação educacional,/humana da qual encontram-se desde a infância alijada por força do bullying.

Há diversos nichos no mercado de trabalho capazes de (bem) absorver essa mão de obra diversificada, criativa e à espera de uma oportunidade – seja como cuidadorxs de idosxs; guias de turismo; trabalhadorxs na indústria de confecções; artífices; artesões; profissionais das artes cênicas; arquitetura; decoração e tantas outras. Basta vontade política para, pesquisando acerca de quais as áreas lhes sejam as mais prioritárias, construir convênios com empresários e centros de formação profissional (Calouste Gubenkian, Sesc, Senac, Cruz Vermelha etc), no sentido de viabilizar a sua capacitação tecnico-profissional; elaborar mecanismos de incentivo estatal para empresários que ofertarem vagas para tais profissionais.

Por outro lado, é preciso ter em conta o processo acelerado de envelhecimento da população em geral, processo do qual o segmento LGBT não se encontra alijado: Será necessário pensar e realizar estratégias para enfrentamento da vulnerabilidade de velhos e velhas LGBTs que, por força da estigmatização da qual foram alvo em toda sua trajetória de vida, encontram-se destituídos dos laços de proteção da família consanguínea.

Como dito acima, minhas restrições às suas visões políticas não me impedem absolutamente de desejar a você o êxito merecido – cuja conseqüência será o alavancamento da realidade social de um contingente significativo de nossa população.

Sucesso! Pois dele advirá um melhor horizonte para muitxs.

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