terça-feira, 31 de maio de 2011

É esse o Processo Decisório da Presidenta Dilma Roussef?

Não adianta, não tem jeito. Não me sai da cabeça. Não consigo deixar de pensar nisso. Aproveito então que    amanhã a impune NETCOMBO se comprometeu - mais uma vez - em reinstalar minha linha e desligar a banda larga (cujos serviços cancelei já desde o dia 11/05 cancelei) para, a modo de despedida, fazer um comentário público sobre isso.

Não votei em Dilma no primeiro turno. Apesar de sempre ter votado no PT desde a sua construção. Não gostei (e não gosto) do modo como vem se afastando de seus princípios fundadores. Não gostei da campanha que ela e seus marqueteiros protagonizaram.

Votei no PSOL de cabo a rabo no primeiro turno. No segundo, porém, sabia que não dava. Tinha que usar o maldito "voto útil". Aí, não tinha outro. Não era doida e votar no Serra (Argh!). Achei - e acho - que era a melhor alternativa. 

À parte a horrorosa campanha - na qual não recusou de fazer a linha do pior da política nacional, indo ao "beija-mão" com o que há de mais obscurantista na sociedade, no que apenas se igualou ao Serra -, eu a admirava pela sua personalidade forte, determinada; o seu apurado senso de responsabilidade e compromisso, a sua capacidade profissional. E, claro, tambem fiquei indignada com o enxovalho que a mídia hegemônica lhe patrocinou, juntamente com Serra e seus asseclas.

Pois bem. Conquistada a eleição, as esperanças renascem. Afinal, é uma mulher; profissional séria e competente. Exigente, rigorosa com valores de há muito esquecidos na República brasileira. Em seu discurso de posse mandou o recado: os direitos humanos seriam um valor do qual ela não descuidaria. Revigorei-me. 

Cheguei mesmo a sentir um certo orgulho ufanista. Sabia que ela não gostava de exposições públicas, não era lá muito maleável aos jornalistas, tampouco ao toma-lá-dá-cá instituído em nossa política desde sempre. Alias, tambem sobre isso ela havia já enviado sinais: os cargos seriam preenchidos pela via da competência técnica.

Não é preciso ser graduado em ciência política para prenunciar que não seria um governo a transcorrer em céu de brigadeiro. A campanha eleitoral bem o mostrara. Ali, nos dois turnos, já havia ficado demonstrado para toda a nação o tipo de cabo de guerra que se instauraria em sua gestão política. Ainda mais reafirmando o compromisso com os historicamente esquecidos - os miseráveis.

Tudo isso é fato conhecido. Apenas chovo no molhado. Veio abril, veio maio e com ele o bendito Caso Palocci. Ali pelo meio, cavando brechas para pegar um palco, o deputado Bolsonaro - a encarnação de uma parte do lado sombra deste nosso país. Veio a votação do Código Florestal. Vem a matança do casal de ambientalistas no Pará. Mais duas mortes anunciadas no campo. Vem a derrota do governo na Câmara e toda a infidelidade da "base aliada" (fisiológica, mimética, inclusive certos petistas, sobretudo fluminenses). Bolsonaro e os demais trevosos posam de vestais. Fingem um rigor ético e moral em tudo turvo, enviesado. Sentem-se tão poderosos ao ponto de ameaçar "trancar" a pauta de votações na Câmara. Enquanto isso, a velha e suja mídia gorda, juntamente com um certo setor "da própria família" seguem pedindo a cabeça de João Batista numa bandeja de prata. E o que faz a Tetarca?

É aí que a coisa toda enlouquece!
Pois como é possível alguem conceber que a figura máxima do governo de um país tenha tomado a decisão de protagonizar aquela louca e nefasta entrevista do dia 26 de maio? 

Como é possível compreender e digerir que a Chefe Suprema da Nação, tida como discreta, racional, tenha quebrado a sua clausura auto-imposta para vir a público, diante de um cerco de microfones, exibir aquele espetáculo de irritação, contrariedade e, pior de tudo, derrota diante de um cabo-de-guerra com o que há de mais obscurantista no pais?

Como pode alguem minimamente lúcido que nela confiou, pela sua atuação nos dois governos do Presidente Lula e pelo seu próprio passado de luta, resistência e determinação, assimilar placidamente aquelas declarações da Presidenta?

Desculpem. Mas eu, sinceramente, não posso. E não posso por uma razão muito simples. Muito básica. Muito estrutural. E por isso, determinante.

Já não se trata mais de se discutir sobre o conteúdo efetivo dos vídeos que integram o material paradidático então em elaboração para atender ao ESCOLA SEM HOMOFOBIA - programa de governo cuja execução e, presume-se (a menos que se seja completamente débil), o planejamento, o acompanhamento e a fiscalização e, posteirormente, a avaliação, estavam a cargo do Ministério da Educação.

A questão, para mim, já nem é mais saber se o material que ela assistiu era o "verdadeiro" ou "falso". Não. Nada disso.

O que fica na minha cabeça remoendo de um lado para outro, feito capim em boca de gado, é a revelação, pela própria Presidenta, do seu processo todo sui generis de tomada de decisão.

Por Zeus. Por Safo, Ganimedes... Por Xangô!!! Como pode ser possível a Presidenta da República ter vindo a público, numa meia roda de microfones, câmeras e jornalistas e, irritada, boca ressecada pelas contrariedades últimas não digeridas, rosto tensionado, olhos penetrantes, dedo em riste, fazer a afirmação mais surpreendente que já vi em toda a minha vida:

- Que tomou a decisão de suspender um programa de governo, ainda em fase de elaboração, baseando-se em material não oficial e que sequer assistiu inteiramente! Isto é, não obtido através do órgão competente. Ou seja, através do Ministério da Educação 

"Eu não assisti aos vídeos todos. 
...A um pedaço que eu vi na televisão, 
passado por vocês, 
eu não concordo com ele [...]"

Vou repetir. A Presidenta declarou publicamente, com todas as letras,

que não conhece todos os vídeos que compõem o material paradidático do Programa Escola Sem Homofobia;

que apenas assistiu uma parte de um dos vídeos.
E que esse vídeo ela não obteve junto ao Ministério da Educação - órgão encarregado daquele programa.

Confiram no vídeo a seguir. Está nos cinco minutos e vinte e três segundos.



Como, com seiscentos milhões de trevosos, pode-se conceber em sã consciência que a Presidenta da República tenha tomado uma decisão dessa importância dessa forma e, pior, no curso de intensa campanha difamatória promovida por parte de evangélicos, católicos e militares da reserva obsedados e obscurantistas?

Onde ela estava com a cabeça??? Onde estava que não solicitou imediatamente informações por parte do Ministério da Educação? 

Onde estava que não se inteirou, primeiro, sobre o que verdadeiramente consistia o material em produção para o Programa - ela que gozava da reputação de pessoa sempre extremamente bem preparada tecnicamente, capaz de descer aos detalhes técnicos numa reunião? 

Onde estava que não determinou ao seu Ministro, logo que Bolsonaro conseguiu emplacar espaços midiáticos com a sua sórdida e falsa catilinária,  que fosse a público, em cadeia nacional, e não em entrevistas capazes de serem manipuladas, esquartejadas e deformadas, esclarecer qual a verdadeira história do material Anti Homofobia?

- Não encontro as respostas. E o peso dessas perguntas não me deixa. Para além da simples e imediata questão do Programa Escola Sem Homofobia. Mas por tudo o que implica. Para além. Para esses quatro anos que a matilha não permitirá sejam leves. De modo algum!





4 comentários:

Abilson Luiz de Menezes disse...

Serei herege diante de um texto que notoriamente escrito por quem ainda imbuído de conhecimento, vivencia, militância e arquétipo fundamentado no que conhecemos por esquerda.
Como eu também o fui ou sou; tanto faz.
O que nos importa como brasileiros é saber se queremos incorporar a dor de ser governado por bandidos e suas práticas.
O Presidente Lula fez bom governo? O que é fazer bom governo?
Deu-nos alimento quando com fome, aumentou nossos salários, ampliou nossos horizontes, recuperou nossa auto-estima.
Ao preço do silencio diante da origem da fonte. É bom para você? Bom para mim? Então estamos acertados.
Aceitamos o pacto, situação, oposição, religioso e meretrizes, ricos e pobres, esquerda e direita, ricos e pobres.
Somos uma nação corrupta e conivente. Eu e você. Deixaremos a herança aos que vem ai.
Com kit ou sem kit, qualquer criancinha sabe o que é essa putaria chamada Brasil!

Abilson Luiz de Menezes disse...

Serei herege diante de um texto que notoriamente escrito por quem ainda imbuído de conhecimento, vivencia, militância e arquétipo fundamentado no que conhecemos por esquerda.
Como eu também o fui ou sou; tanto faz.
O que nos importa como brasileiros é saber se queremos incorporar a dor de ser governado por bandidos e suas práticas.
O Presidente Lula fez bom governo? O que é fazer bom governo?
Deu-nos alimento quando com fome, aumentou nossos salários, ampliou nossos horizontes, recuperou nossa auto-estima.
Ao preço do silencio diante da origem da fonte. É bom para você? Bom para mim? Então estamos acertados.
Aceitamos o pacto, situação, oposição, religioso e meretrizes, ricos e pobres, esquerda e direita, ricos e pobres.
Somos uma nação corrupta e conivente. Eu e você. Deixaremos a herança aos que vem ai.
Com kit ou sem kit, qualquer criancinha sabe o que é essa putaria chamada Brasil!

Papai Gay disse...

Mais um belíssimo texto.

Rita Colaço disse...

São passados vários meses e a gente cada vez mais vai se convencendo de que o Governo Dilma está manietado pelos fundamentalistas. - Triste!

Triste também perceber que a questão da orientação homossexual é um assunto meio complicado para ela. Não consegue lidar com naturalidade.
http://youtu.be/2jMNGyOH2Ms