sábado, 26 de maio de 2012

Da incapacidade de discernir ou ponderar consequências

Quantos de nós somos capazes de resistir a uma ordem aética e/ ou ilegal? 

Quantos de nós somos incapazes de resistir a uma determinação de alguem hierarquicamente superior, quando se trata de algo que sabemos aético ou mesmo ilegal? 

Diariamente somos expostos a incontáveis práticas que sabemos bem tratar-se de algo aético ou ilegal, independentemente de seus praticantes se encontraram na posição de "obediência funcional", conceito que é em si questionável. 

- Por que nos prestamos com tanta facilidade a tais práticas? 

- Por que não somos capazes de, ANTES, refletir sobre as implicações de nossas ações? Ações que, muitas das vezes, praticamos na presença de nossos filhos, crianças ou adolescentes? 

Na postagem anterior busquei chamar atenção para o fato intensamente corriqueiro de se obedecer a vozes de comando e figuras de autoridade, sem por um instante sequer se considerar os efeitos das ordens, as suas implicações e natureza e a possibilidade de se lhe opor uma resistência determinada, em se tratando de determinação aética ou ilegal. - Tendência comprovada por meio de experiências citadas no blog Comendo o Fruto Proibido.

Hoje quero propor a reflexão sobre o modo frequente com que se tomam decisões de forma igualmente irrefletida.

Quem se lembra da campanha eleitoral que elegeu Collor de Mello como Presidente, em 1990? Quem se lembra do recurso eticamente censurável que ele lançou mão para desqualificar o seu oponente, o ex-presidente Lula? 

Collor se valeu de uma ex-namorada de Lula para desqualificá-lo. A moça alegava que, quando juntos, ela engravidara e Lula optara pelo abortamento. Os veículos de imprensa deram destaque ao fato. Nenhuma nota, porém, sobre o "golpe baixo" que aquilo representava. O eleitorado, pelo visto, fez o mesmo. Nenhuma relevância, ao que parece, foi atribuída àquele ato. Nenhuma ponderação acerca da flexibilidade ética daquele candidato, que não pensara duas vezes em lançar mão de uma "arma" tão vil e ignóbil. Afinal, um candidato que é capaz, em uma simples campanha eleitoral, de fazer uso de semelhante maquinação, o que não é capaz de fazer quando estiver de posse de todos os poderes, prerrogativas e acesso atinentes ao cargo público de representante máximo da nação?

Thiago Vianna, o autor do blog Comendo o Fruto Proibido, onde tais reflexões foram deflagradas, traz o caso de um apresentador de programa televisivo, desses recheados de violência e bizarrice que, por conta precisamente da exploração sensacionalista da criminalidade, fora premiado pelos telespectadores com três mandatos para a Câmara Federal, sempre com recorde de votação.

É frequente, em nossas eleições, a imprensa noticiar a eleição, com votação bastante expressiva, de canditados tidos como "lindinhos", "um gato"... Ou por serem uma grande expressão no futebol, ou na arte dramática televisiva. Ou, ainda, pura e simplesmente por professar esta ou aquela religião. 

- Pior, muito pior, quando são eleitos precisamente por defenderem posturas de ódio, de práticas penais extra legais, em flagrante violação dos direitos humanos de criminosos pobres; de intolerância, segregação e aviltamento de grupos sociais.

A real e efetiva atividade pública do canditado eventualmente eleito, ao que se percebe, raríssimamente nesses casos é considerada. 

Nenhum ou quase nenhum questionamento a respeito das possíveis qualidades éticas, culturais e técnicas para o bom desempenho da função pública a que concorre - seja como parlamentar, seja como titular do Executivo.

Em nossas mãos, enquanto eleitores, se encontra enorme responsabilidade, que não dedicamos muita atenção: 

- O poder de, com o nosso voto, escolher quem será investido na prerrogativa de utilizar os recursos arrecadados de todos nós; 

de decidir se prioriza a vida digna ou a atividade mercantil; 

se prima por relações espúrias com redes subterrâneas de poder e influência ou exibe uma conduta, no "privado" ou em público, ilibada, escorreita, transparente, humilde; ciosa de que exerce apenas uma função de REPRESENTAÇÃO: o poder não é seu, mas daqueles que votaram, independentemente de ter ou não sido no seu nome.

Eis aí uma responsabilidade à qual nós todos, sem exceção, deveríamos dedicar maior atenção! E, depois, apurados os votos, proclamados os vitoriosos, empossados os titulares dos cargos, não nos esquecermos de dedicar sempre algum de nosso tempo a acompanhar-lhes as ações - algo como se acompanhássemos as atividades de um filho adolescente. Afinal, é a nossa vida, saúde, recursos, futuro nosso e dos nossos que está em jogo.

Nenhum comentário: