quarta-feira, 11 de julho de 2012

ONU recomenda promulgar Lei Anti-homofobia


Foi em 17 de novembro de 2011, durante a 19ª Reunião do Conselho de Direitos Humanos (CDH-ONU). Figurou entre as recomendações que o  Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos apresentou no seu Relatório, referente ao estudo determinado pela Resolução 17/19, de 2011. Está na letra "e":

e) PROMULGAR LEI ANTIDISCRIMINAÇÃO ABRANGENTE, INCLUINDO A  ORIENTAÇÃO SEXUAL E A IDENTIDADE DE GÊNERO ENTRE AS MOTIVADORAS PROIBIDAS; reconhecer a interseção entre todas as formas de discriminação; assegurem que o combate à discriminação em razão da orientação sexual e da identidade de gênero está incluído nas atribuições das instituições nacionais de direitos humanos. (Destaques de minha autoria)

Cabe agora aos setores interessados - no caso as pessoas LGBTs, assassinadas, agredidas, violentadas e humilhadas diariamente - se mobilizar para cobrar do governo brasileiro (executivo e legislativo) a implementação das recomendações da ONU constantes desse Relatório de 17 de novembro de 2011, e, ainda, as recomendações apresentadas pela Finlândia, durante a segunda RPU, realizada entre maio e junho desse ano.

Se acaso as pessoas LGBTs se decidirem por permanecer utilizando-se as redes sociais exclusivamente para mensagens nos estilos auto-ajuda, humor, religião, bichinhos e críticas niilistas, não terão depois porque se queixar  sobre os baixos níveis de eficácia dos direitos humanos em seu país e os sempre ascendentes níveis dos crimes de ódio por orientação sexual e identidade de gênero.
 
 Veja aqui outras recomendações do mesmo relatório:
a) proceder imediatamente a investigações a respeito de todos os assassinatos noticiados e todos os fatos graves de violência motivada pela orientação sexual real ou percebida ou identidade de gênero; tenha eles ocorrido em ambiente público ou privado, praticados por agentes do estado ou não, com a devida apuração da/s autoria/s; e estabeleçam sistemas de registro e notificação desses atos. (Negritos de minha autoria)

b) adotar medidas para prevenção de tortura e outras formas de tratamento cruel, desumano ou degradante, motivadas pela orientação sexual (real ou presumida) e identidade de gênero; e para garantir a  investigação minuciosa de todos os fatos noticiados de tortura e maus-tratos; e para processar e punir os responsáveis. (Negritos de minha autoria)

f) Garantir que as pessoas possam exercer os seus direitos de liberdade de reunião, associação e expressão pacífica com segurança, sem discriminação em razão da orientação sexual e da identidade de gênero.

g) Implementar programas de formação e sensibilização para policiais, agentes penitenciários, guardas de fronteira, oficiais de imigração e profissionais encarregados de aplicação da lei, e apoiem campanhas informação para toda a sociedade visando combater a homofobia e transfobia na sociedade em geral, e específicas para as escolas. (Negritos de minha autoria)

h) Facilitar o processo de reconhecimento legal do gênero de identidade das pessoas transexuais, expedindo os documentos de identificação devidamente retificados, sem violação de outros direitos humanos.

Recorde-se o tratamento que a Presidenta Dilma Rousseff vem dando à questão das violações aos LGBTs, censurando o material paradidático do programa escola sem homofobia (até hoje suspenso), deixando de comparecer à abertura da II Conferência Nacional de Políticas Públicas para pessoas LGBTs - embora tenha participado das demais; silenciando no dia mundial de combate à homofobia (17 de maio), no dia 28 de junho (dia mundial da dignidade LGBT) e também por ocasião da ascensão nos crimes de ódio contra esse segmento da população.

A Ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH), Maria do Rosário Nunes, tambem tem evitado fazer qualquer declaração. Limitou-se a mencionar o atentado contra os gêmeos de forma incidental, ao anunciar a intenção de criar Comitês Estaduais de enfrentamento à homofobia, em 28 de junho último. 

Embora alguns dos números tenham sido divulgados em 28 de junho, sobre a violência contra a população LGBT, até o momento o Relatório de Violência Homofóbica, resultante de denúncias formuladas perante o Disque Direitos Humanos (disque 100) e o Disque 180, da Secretaria das Mulheres e do Ministério da Saúde, não foi divulgado. E, estranhamente, a noticia constante do portal da SEDH omite o número de mortos - 278, 12 a mais do que o contabilizado pelo Grupo Gay da Bahia, GGB, 266.
Entre janeiro e dezembro de 2011, foram denunciados 6.809 violações aos direitos humanos contra a população LGBT, envolvendo 1.713 vítimas e 2.275 suspeitos. A média de violações diárias no período foi de 18,6.  A maioria dos agressores (61,9%), são conhecidos da vítima. O perfil das vítimas é de 34% do gênero masculino, 34,5% do gênero feminino, 10,6% travestis, 2,1% de transexuais e 18,9% não informado. A maioria das denuncias (41,9%), foram feitas ao Disque 100 pela própria vítima.
Pesquise no portal da SEDH. Nenhuma menção sobre a população LGBT é feita após o dia desse anúncio, ou seja, 28 de junho, embora esses dois crimes violento. 

Na rubrica Disque Denúncia - O que somos, referente ao serviço de denúncia de violações de direitos humanos, este é referido apenas enquanto serviço nacional de denúncias de abuso e exploração contra crianças e adolescentes.

O relatório de 2011 ali constante, contendo os números e tipologia da violência denunciada, refere-se unicamente ao "módulo criança e adolescente" ("Relatório Disque Direitos Humanos").

O relatório sobre as violações referentes à população LGBT até o momento não foi divulgado.

Por parte do Legislativo também nenhuma declaração se vê. 

Sequer os Presidentes das Comissões de Direitos Humanos da Câmara e do Senado se viu algum pronunciamento, exortando o Parlamento para que cumpra as recomendações da ONU, emitidas em 17  de novembro de 2011.

Atualizado em 19/07/2012, 12h45.

2 comentários:

Augusto disse...

Muito bom o blog, continue noticiando.

Augusto disse...

Muito bom o blog, continue escrevendo.