segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Um Rio de descaso e vergonha


Sabe-se que a cidade do Rio de Janeiro, como tantas outras pelo país, encontra-se submetida a obras diversas, a custos estratosféricos, para "adequar" a cidade aos grandes eventos de público e mídia que ocorrerão - Olimpíadas e Copa do Mundo de Futebol.
Quiosque restaurado em 2004

Tapume abandonado
Enquanto isso, sítios históricos, localizados em área central da cidade, estão completamente abandonados, alvo não apenas das ações destrutivas da população - incapaz ainda de comportar de maneira minimamente civilizada, de ostentar uma educação a mais comezinha, e de se aperceber que a cidade lhes pertence, é um patrimônio destinado pelas gerações passadas -, mas também dos empregados pagos com o dinheiro do contribuinte para conservá-la.

Tubulação exposta
Como sempre em nosso país, a lógica segue aquela máxima condensada na expressão "para inglês ver". Ou seja: nada sério, correto, profundo; apenas maquiagem e bons negócios para a especulação imobiliária, defenestrando-se, claro, as populações pobres, elemento sempre indesejável e incômodo na maioria de nossas administrações.

Painel informativo da restauração - 2004
O Passeio Público é, como dizem os gestores, um "equipamento público" criado no século XVIII. Mais precisamente em 1768, pelo Mestre Valentim e tombado em 1938 pelo Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Foi objeto de restauração no ano de 2004, ao custo de R$ 1.800.000,00. Foi realizada pesquisa histórico-arqueológica e o trabalho envolveu equipe multidisciplinar, com técnicos tanto da Prefeitura, através do Departamento de Parques e Jardins, como da 6ª Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

No mês de novembro vi afixada uma placa em sua grade, pelo lado externo, na Rua do Passeio, localizada na altura do final do prédio da antiga Mesbla com o do antigo cinema. 

Ela descrevia a realização de obras de restauração da Fonte dos Jacarés e o prazo de 60 dias. Não trazia a data de seu início. Tampouco o preço. De seu teor, deduz-se que seria realizada peloa própria equipe da Prefeitura.

Em  dezembro ela ainda permanecia lá.

16/12/12
16/12/12
Tenho frequentado constantemente o local. Tenho profunda estima por ele - aliás, por toda a cidade, onde se respira história a cada centímetro. Com essas visitas, quase semanais, tenho podido acompanhar o ritmo das obras. É muito mais lendo do que o caminhar de um cágado.

Ademais de sua lentidão, ressalta o nenhum cuidado no encerramento dos serviços às sextas-feiras. Aos finais de semana, os visitantes eram submetidos ao panorama de descuido e de amadorismo na realização dos trabalhos.

Poça com filhotes
Foto de 16/12/12
Além do trabalho na Fonte dos Jacarés, foi realizada intervenção em toda a extensão da lámina d'água, com a retirada do material acumulado. O curioso foi o modo de manejo. 

Nenhum cuidado para com os peixes ali existentes - tilápias cinza e rosa. 

Era possível ver muitos filhotes reunidos em uma poça d'água, lutando pela sobrevivência, enquanto garça e socó os espeitavam  e caçavam. 

Revolta, entristece e
causa indignação tanto descaso.

Tapar a vala: 1 semana de trabalho
Foto de 16/12/12
Na última semana, do dia 20 ao dia 27 (ou de 21, segunda-feira, até o dia 25, sexta-feira), o único serviço constatado foi a cobertura de uma vala aberta para passar a canalização de escoamento do Fonte e a pintura de uma lateral e da frontal do gradil existente entre a escada de acesso ao espaço onde havia um Belvedere e a fonte do menino. (Fotos de 27/12/12)


Pintura em "L" - Uma semana de trabalho
Além da cobertura do solo, sobre a canalização da caixa de inspeção (que permanece aberta), outro trabalho executado na semana entre 21 e 25 de janeiro foi a pintura do gradil entre a Fonte do Menino e o espaço outrora ocupado pelo Belvedera - A parte lateral e a parte frontal, formando um "L".


Em sua parte externa, mais exemplos de descaso e incivilidade:  
Rio de urina e gradil corroído



O gradil atrás da árvore situada na parte fronteira à Praça Mahatma Gandhi encontra-se corroído pela diuturna rega de urina de tantos de nossos valorosos cidadãos que não se pejam em destruir e emporcalhar a cidade e seus monumentos históricos com o seu excremento corrosivo.






Na parte interna, um rio de irregularidades e mais descaso. 

Trincha e táboa


Na borda da Fonte, junto ao muro que do outro lado exibe a Fonte do Menino, uma trincha e uma táboa, abandonados. 


Fiação exposta - coluna fronteira IHGB





 
A impressão que se tem é a de que não há Chefe, Supervisor, Encarregado ou o que quer que seja de responsável pela fiscalização, pelo acompanhamento dos trabalhos dos operários. 

Fiação exposta base luminária
Por toda a extensão do Passeio pode-se encontrar as marcas do escaso, da irresponsabilidade.


Área do antigo Belvedere
São fios expostos, tubulação de água e conduítes da fiação à flor da terra, restos de material de obra largados, caçamba de lixo atulhada, empoçamento constante na área onde funcionou o belvedere e o cassino - foco de mosquitos da dengue.


A pergunta que surge é: 

- Como pode a cidade do Brasil mais conhecida e amada no exterior, a cidade-referência do país, em termos culturais e ambientais, tida como o Segundo Destino Turístico Gay Mundial (já ocupou a primeira posição há alguns anos atrás), ser relegada a tamanho descaso, que beira a crime contra o patrimônio histórico?
Estacionamento?

Acabamento do serviço
Inacreditável, simplesmente inacreditável!



Ralo - Fonte dos Jacarés
Lixo jaz mess sem recolhimento

 Não há como não se ficar indignado com tanta irresponsabilidade, aviltando a cidade, seus moradores e sua história. 


Um comentário:

Adua Nesi disse...

A Prefeitura age movida à licitações e modismos. A moda no momento, é o Museu de Ciências do Amanhã e a Praça Mauá.