Sabe-se que a cidade do Rio de Janeiro, como tantas outras pelo país, encontra-se submetida a obras diversas, a custos estratosféricos, para "adequar" a cidade aos grandes eventos de público e mídia que ocorrerão - Olimpíadas e Copa do Mundo de Futebol.
Quiosque restaurado em 2004 |
Enquanto isso, sítios históricos, localizados em área central da cidade, estão completamente abandonados, alvo não apenas das ações destrutivas da população - incapaz ainda de comportar de maneira minimamente civilizada, de ostentar uma educação a mais comezinha, e de se aperceber que a cidade lhes pertence, é um patrimônio destinado pelas gerações passadas -, mas também dos empregados pagos com o dinheiro do contribuinte para conservá-la.
Tubulação exposta |
Como sempre em nosso país, a lógica segue aquela máxima condensada na
expressão "para inglês ver". Ou seja: nada sério, correto, profundo;
apenas maquiagem e bons negócios para a especulação imobiliária,
defenestrando-se, claro, as populações pobres, elemento sempre
indesejável e incômodo na maioria de nossas administrações.
Painel informativo da restauração - 2004 |
O Passeio Público é, como dizem os gestores, um "equipamento público" criado no século XVIII. Mais precisamente em 1768, pelo Mestre Valentim e tombado em 1938 pelo Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Foi objeto de restauração no ano de 2004, ao custo de R$ 1.800.000,00. Foi realizada pesquisa histórico-arqueológica e o trabalho envolveu equipe multidisciplinar, com técnicos tanto da Prefeitura, através do Departamento de Parques e Jardins, como da 6ª Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
No mês de novembro vi afixada uma placa em sua grade, pelo lado externo, na Rua do Passeio, localizada na altura do final do prédio da antiga Mesbla com o do antigo cinema.
Ela descrevia a realização de obras de restauração da Fonte dos Jacarés e o prazo de 60 dias. Não trazia a data de seu início. Tampouco o preço. De seu teor, deduz-se que seria realizada peloa própria equipe da Prefeitura.
Em dezembro ela ainda permanecia lá.
16/12/12 |
16/12/12 |
Tenho frequentado constantemente o local. Tenho profunda estima por ele - aliás, por toda a cidade, onde se respira história a cada centímetro. Com essas visitas, quase semanais, tenho podido acompanhar o ritmo das obras. É muito mais lendo do que o caminhar de um cágado.
Ademais de sua lentidão, ressalta o nenhum cuidado no encerramento dos serviços às sextas-feiras. Aos finais de semana, os visitantes eram submetidos ao panorama de descuido e de amadorismo na realização dos trabalhos.
Poça com filhotes |
Foto de 16/12/12 |
Além do trabalho na Fonte dos Jacarés, foi realizada intervenção em toda a extensão da lámina d'água, com a retirada do material acumulado. O curioso foi o modo de manejo.
Nenhum cuidado para com os peixes ali existentes - tilápias cinza e rosa.
Era possível ver muitos filhotes reunidos em uma poça d'água, lutando pela sobrevivência, enquanto garça e socó os espeitavam e caçavam.
Revolta, entristece e
causa indignação tanto descaso.
causa indignação tanto descaso.
Tapar a vala: 1 semana de trabalho |
Foto de 16/12/12 |
Pintura em "L" - Uma semana de trabalho |
Além da cobertura do solo, sobre a canalização da caixa de inspeção (que
permanece aberta), outro trabalho executado na semana entre 21 e 25 de
janeiro foi a pintura do gradil entre a Fonte do Menino e o espaço
outrora ocupado pelo Belvedera - A parte lateral e a parte frontal,
formando um "L".
Em sua parte externa, mais exemplos de descaso e incivilidade:
Rio de urina e gradil corroído |
O gradil atrás da árvore situada na parte fronteira à Praça Mahatma Gandhi encontra-se corroído pela diuturna rega de urina de tantos de nossos valorosos cidadãos que não se pejam em destruir e emporcalhar a cidade e seus monumentos históricos com o seu excremento corrosivo.
Na parte interna, um rio de irregularidades e mais descaso.
Trincha e táboa |
Na borda da Fonte, junto ao muro que do outro lado exibe a Fonte do Menino, uma trincha e uma táboa, abandonados.
Fiação exposta - coluna fronteira IHGB |
A impressão que se tem é a de que não há Chefe, Supervisor, Encarregado ou o que quer que seja de responsável pela fiscalização, pelo acompanhamento dos trabalhos dos operários.
Fiação exposta base luminária |
Por toda a extensão do Passeio pode-se encontrar as marcas do escaso, da irresponsabilidade.
Área do antigo Belvedere |
A pergunta que surge é:
- Como pode a cidade do Brasil mais conhecida e amada no exterior, a
cidade-referência do país, em termos culturais e ambientais, tida como o
Segundo Destino Turístico Gay Mundial (já ocupou a primeira posição há
alguns anos atrás), ser relegada a tamanho descaso, que beira a crime
contra o patrimônio histórico?
Acabamento do serviço |
Inacreditável, simplesmente inacreditável!
Ralo - Fonte dos Jacarés |
Lixo jaz mess sem recolhimento |
Não há como não se ficar
indignado com tanta irresponsabilidade, aviltando a cidade,
seus moradores e sua história.
Um comentário:
A Prefeitura age movida à licitações e modismos. A moda no momento, é o Museu de Ciências do Amanhã e a Praça Mauá.
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