quarta-feira, 24 de abril de 2013

E a gora, Dilma?

Diz Maurício Dias, na edição desta semana da revista Carta Capital (de 24 de abril de 2013, nº 745, p. 15):

"Alinhados desalinhados
Dilma trocou ministros para tentar amarrar mais dois partidos menores, o PDT e o PR, à reeleição dela.
No entanto, enquanto o presidente do PDT, Carlos Lupi, trombeteia que o partido não se decidiu quanto à eleição e está livre para alianças ..., o PR avisa nos bastidores do Congresso que vai sugar o que puder do governo, mas não se unirá a Dilma em 2014." (Destaquei)

É triste constatar, mas parece mesmo que a presidenta Dilma ainda não conseguiu reconhecer que todo o seu servilismo à sua base de apoio conservadora e reacionária não lhe assegurou de forma alguma o apoio e a defesa de suas iniciativas perante o Legislativo. Seja na questão da distribuição de royalties do pré-sal, seja na lei orçamentária de 2013, sua base de sustentação no Congresso tem lhe deixado à ver navios, votando contra a posição defendida pelo governo.  

Em 2014 Dilma corre o risco de ter que enfrentar o mesmo constrangimento vivido por Marta Suplicy que, em audiência pública, assistiu integrantes do bloco fundamentalista com quem construiu - com o beneplácito da ABGLT - seu substitutivo ao PLC 122 de Fátima Cleide (de seu mesmo partido, o PT), negar apoio ao texto, como Pedro negando Jesus.

Adular um partido, manter-se fiel e subserviente a ele, enquanto os seus parlamentares primam por condutas baseadas na manipulação, na difamação e na mentira, não parece se coadunar com a trajetória de vida da Presidenta. Mas é a escolha que ela fez e tem sustentado durante todo o seu governo, desde a forma açodada com que tomou sua decisão em maio de 2010, em relação ao material paradidático do programa Escola sem Homofobia,  à revelia do compromisso declarado em seu discurso de posse, de que governaria para todos e que seria uma intransigente defensora dos direitos humanos.

Agora, quando, de um lado, o Presidente do PSDB faz mea culpa e reconhece o erro que foi a exploração conservadora de temas ditos "polêmicos" como o reconhecimento dos direitos civis da população LGBT e o aborto; quando o potencial candidato do partido à Presidência em 2014, Aécio Neves, reconhece publicamente a legitimidade do pleito desse segmento populacional; e, de outro, partidos da base de apoio da Presidenta, após lhe atraiçoar reiteradamente na votação de questões estratégicas ao governo e à governabilidade (sem falar no desrespeito à sua pessoa, como aquele praticado pelo Deputado Federal Jair Bolsonaro, bradando que ela deveria se assumir publicamente se lésbica), ostensiva e publicamente brada a sua práxis fisiológica e nova traição premeditada para as eleições de 2014, Dilma poderá se ver "a pé no meio da estrada":  

- Sem o apoio dos segmentos progressistas, dos movimentos sociais, sobretudo dos movimentos LGBTs, traída pelos reacionários antidemocráticos com os quais se aliou, vendendo a eles a alma de seu governo e, ainda, ter que assistir aquele partido que lhe levou à escolha de fazer essa guinada à direita fisiológica e golpista (vejam os projetos de lei que esse bloco vem apresentando no Congresso) outra vez pautar o tom da campanha, agora rumo à esquerda, à pauta progressista, bandeira genesíaca do PT, partido atual da Presidenta e de seu mentor, o ex-presidente Lula.

Naquela ocasião, Dilma poderia ter optado por se negar ao jogo sujo de José Serra e ao invés de uma governabilidade sem valores, sem princípios, uma governabilidade a qualquer preço, ficar com a opção de uma disputa reiterativa dos valores civilizatórios, cumprindo, assim, a função pedagógica concernente a qualquer partido político digno desse nome. Ela, contudo, se decidiu consciente e determinadamente pela primeira.

Agora, após haver insistido sem limites nesse projeto suicida (não apenas para um governo, mas para toda a democracia, para o futuro da nação), ver-se-á na disputa pela reeleição "traída e abandonada":

- Sem o apoio daqueles a quem vendeu sua alma política e sem o apoio dos movimentos sociais a quem traiu despudoradamente e, no caso de LGBTs desqualificou publica e sistematicamente, enquanto no exterior proferia discursos para Inglês ver, levando os seus interlocutores a imaginarem que o seu governo respeitasse e defendesse, efetivamente, os direitos humanos como valor universal e indivisível.

E o seu maior adversário portar ironicamente as mais caras bandeiras históricas do PT e de Lula.

Triste biografia para a primeira mulher a ocupar a presidência da República, vinda da honrosa resistência ao golpe de 1964.

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