terça-feira, 2 de agosto de 2011

Roni Argalji e a sua Duloren: Afinal, quem é mesmo idiota e tem QI de ameba?

Inicialmente pode parecer contraditória essa ideia do Roni Argalji, atual diretor e proprietário da Duloren, de tornar Bolsonaro garoto-propaganda de sua fábrica de peças íntimas.
 
Tendo em 2001, após o falecimento de seu pai, comprado de sua irmã e primos a marca que seu pai havia criado, Roni decidiu dar seguimento à linha publicitária polêmica iniciada na empresa em 1995.

Em julho de 1995 a Duloren teria lançado uma campanha com ninguem menos do que Dercy Gonçalves, para o slogan "Você não sabe do que uma Duloren é capaz".

Em julho de 1999, lançou campanha com a imagem de dois homens de terno se beijando, tendo ao lado o mesmo slogan.

O oposto de Olivero Toscani e Benneton
Não se pode, porém, dizer que a Duloren empregue  o recurso da publicidade polêmica  da mesma forma que a Benetton. Não, de jeito nenhum. De meu ponto de vista, aliás, poderia mesmo ser considerado em sentido diametralmente oposto.

Me explico.
 A Benetton, aderindo à concepção de Olivero Toscani, ousou utilizar-se da linguagem publicitária para, ademais de vender suas mercadorias, quebrar paradigmas e, por meio desse recurso, incitar a reflexão, o debate. Enfim, fazer com que as pessoas parem para pensar sobre si mesmas, em termos de suas concepções de mundo e nas formas de relação instituídas no mundo à sua volta.

  Já a Duloren, pelo que se observa de suas campanhas, embora traga certos traços em princípio lidos como progressistas, na realidade termina por reforçar os padrões estabelecidos. 

Digo de outra forma.

 É certo que ela emprega o humor, a irreverência, a provocação, o erotismo, a sensualidade.  

No entanto, ao fim e ao cabo, não dá ensejo ao surgimento de reflexões críticas. Não abala as estruturas de pensamento, de visão de mundo. 

Como diz o título de uma de suas campanhas, é uma polêmica em bases puramente libertinas.

E por que? Porque emprega uma linguagem que é apenas supostamente transgressora. Porque sua pseudo transgressão se realiza dentro dos mesmíssimos padrões estéticos legitimados pela parcela hegemônica - aquela tida como "cult", "inn", ou que se pensa enquanto tal. 

 As mulheres e os homens cujas imagens são utilizadas nas campanhas, com exceção da Dercy Gonçalves e de uma gordinha simpática, seguem rigorosamente o script hegemônico - brancos, magros, ele musculoso, viril, ela, delgada, delicada, sensual e jovens. 

Quando apareceram os velhos, era dentro da representação arcaica dos vovozinhos "inofensivos".


As lésbicas, por exemplo, são meras projeções idealizadas do imaginário masculino heterossexual, nada mais.
 
Dentro dessa concepção exibida ao longo das campanhas, resulta perfeitamente possível e coerente - do ponto de vista do proprietário da marca - inserir a imagem de uma pessoa como Bolsonaro.

É que, no fundo, no fundo, as campanhas da Duloren não estão aí para questionar coisa nenhuma - ao contrário da Benetton e as campanhas criadas por Olivero Toscani.

O dono da empresa Duloren apenas se aproveita de temas e personas tidos como polêmicos, quer dizer, como o próprio Roni definiu, controvertidos, para "surfar" em sua onda, para se colocar em evidência. Ou seja, para incrementar as vendas da sua mercadoria. 

Então, dentro desse contexto, do mesmo modo que pensa em usar a imagem do Bolsonaro, poderia ter escolhido a de Hitler. 

- Seria simplesmente o legítimo exercício ao sagrado direito de expressão, conforme a opinião de Roni.
A Duloren não tem nada nem a favor nem contra. Desde que não me atrapalhe, minha filha, fique à vontade. 
Dado que a liberdade de expressão - na concepção de Roni Argalji - não possui limites, é um direito absoluto, totalitário, e dado que ele, no fundo, no fundo, não está nem aí para valores, o que ele quer é só e somente utilizar-se da polêmica para vender,  então não há problema algum em utilizar-se seja da imagem de Bolsonaro, seja da imagem de Hitler - dá tudo no mesmo!

Um simples detalhe?
Não me parece, porém, que seja tão simples assim. 

Roni Argalji declarou ao sítio Terra Magazine que aquelas pessoas que pensam em boicotar os produtos de sua empresa por conta de sua decisão de utilizar a imagem de Bolsonaro seriam "idiota"s, "burra"s; teriam "QI de ameba"... Enfim, "gente ignorante que não tem o que fazer."
Isso é coisa de gente com QI de ameba, gente burra.  Uma pessoa, que tem sua opinião e sabe que o outro tem direito a seu pensamento, não vai entrar numa idiotice, numa infantilidade dessa.
Parece que ele deixou de considerar o fato de que, embora dentro dessa ótica puramente libertina e marcadológica, as campanhas que aprova para veicular o nome de sua fábrica de peças íntimas termina tendo como público-alvo mulheres emancipadas, autossuficientes, inteligentes.

Mulheres - e certamente alguns homens - que discordam veementemente de pessoas que desrespeitam e ofendem mulheres e outros seres humanos, inclusive homossexuais - gays, lésbicas, travestis, transexuais.

Embora trabalhe a divulgação de sua marca na linguagem do libertino e das sex shops (- nada contra, por favor!!!), muitas consumidoras e certos consumidores  dos produtos de sua marca (dado que tambem comercializa peças íntimas masculinas), certamente não aprovarão a associação da marca Duloren à imagem de uma pessoa que ridiculariza a noção de Direitos Humanos; que costuma agredir e ridicularizar mulheres e disseminar o desrespeito e o ódio aos homossexuais, travestis e transexuais.

Talvez, alem de refletir sobre os efeitos de associar sua marca a uma pessoa como Bolsonaro - que ademais de possuir eleitores suficientes para reelegê-lo, ocupa um nicho do eleitorado que se caracteriza pela intolerância, autoritarismo, violência e arbítrio -, valesse a pena Roni dedicar alguns minutos de seu dia a examinar a sua própria incoerência.

Incoerência do empresário
Ora ele afirma, na matéria do sítio terra Magazine, que "a Duloren se posiciona". Ora, na mesmíssima matéria, ele diz que "A Duloren não tem nada nem a favor nem contra. Desde que não me atrapalhe, minha filha, fique à vontade."

Parece que ele se esquece - ao que tudo indica - do conteúdo da campanha da coleção Atelier, que aprovou pessoalmente, datada 04/2010 e criação de Marcos Silveira. Ela traz uma mulher estilo vamp, de soutiã com ombreiras, biquini e a mão esquerda para cima, com o dedo médio em riste e, ao lado, o texto: abuso sexual, prostituição infantil, estupro, racismo, violência, humilhação, assédio sexual, corrupção, impunidade, preconceito e, bem mais embaixo, o slogan: você não imagina do que uma Duloren é capaz).

No meio de tanta mixórdia, fica difícil, muito difícil, saber ao certo afinal, a que diabos quer  Roni Argalji que o público consumidor associe à sua fábrica Duloren!

No meio de tanta contradição, cabe a pergunta:

- Afinal, quem é mesmo "idiota", "burro" e tem "QI de ameba"?

Uma coisa, porém, é mais do que certa: 

- Seja lá o que for que Roni tenha em sua cabeça promover em associação à sua marca, certamente não é o culto e a promoção de valores consagrados constitucionalmente!

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