terça-feira, 8 de maio de 2012

Assédio moral na De Millus 1978

Obrigadas pela empresa De Millus, de propriedade do senhor Nahum Manela, a se desnudarem e se submeterem a apalpadelas, a fim de provarem que não estavam furtando peças das roupas íntimas produzidas; a utilizarem refeições do restaurante interno cujas péssimas condições de higiene já haviam sido diversas vezes por elas denunciadas; receber remuneração abaixo do piso da categoria e por tarefa; submetidas a jornada diária de dez horas,  um contingente de quase 90% de empregadas entre 14 e 18 anos (em desacordo com a legislação trabalhista, que determinava apenas 15%), cerca de três mil trabalhadoras da fábrica, na Penha, se rebelam.


O primeiro dia da inspeção corporal, no início da semana, já havia resultado em um segurança com um braço quebrado. Na quinta-feira, indignadas, passam a jogar pedras e a depredar o espaço onde suas bolsas ficavam retidas. Primeiro os seguranças da empresa, seguidos pelos policiais da delegacia próxima e, depois, a tropa da PM, chamada pelo próprio dono da empresa, partem para cima das mulheres com cassetetes e camburões – muitas ficaram imprensadas entre o muro e os carros. Sete mulheres foram hospitalizadas, duas das quais grávidas. Uma perdeu o bebê.


Na delegacia de Polícia Política e Social - DPPS, o agente da lei chama de baderneiras aquelas que lutam pela dignidade pessoal e indaga se o ato tinha “objetivos políticos”. No dia seguinte a jornada de trabalho iniciada às cinco horas da madrugada foi interrompida às nove pela direção da empresa, temerosa de outros conflitos.


 O resultado foi inverso: aproximadamente mil (1.000) mulheres retomaram os protestos, organizando passeata pela Avenida Lobo Júnior, na Penha, onde fica a fábrica. Na mesma manhã a vitória foi anunciada: estavam suspensas as inspeções corporais e a retenção de suas bolsas.


Esta manifestação se constituiu em um marco na luta das mulheres operárias na década de 1970, principalmente no Rio de Janeiro que, na época se encontrava aquém do nível de organização e consciência das mulheres paulistas que contavam com Clubes de Mães, movimento do custo de vida, associações de bairros etc. 


Referências: 

Jornal Em Tempo, 1978.

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