quarta-feira, 13 de junho de 2012

Basta de circo, jornalistas e âncoras televisivos!

Estou farta de todos os dias assistir, pela televisão, jornalistas se referirem ao crime envolvendo o executivo da Yoki como "o crime que comoveu o país" - como se não se tratasse mais um de tantos crimes com esquartejamento do cadáver. 

(Aqui o que há de singular é a quebra na tradicional manifestação da violência decorrente da dominação de sexo-gênero e de classe-posição: - a assassina é uma mulher que executou todo o crime sem o auxílio de um homem; a vítima é integrante dos estratos econômicos mais elevados da sociedade nacional.

Mas isso não interessa à lógica à qual vocês servem, analizar - sequer mencionar! Ao contrário!

São elementos que vocês amplamente utilizam para, ao invés de problematizar, reforçar os valores culturais distorcidos que estruturam a nossa "democracia" que é, antes, estamental, burguesa, incapaz de conseguir se livrar de sua ferida narcísica imperial e vive a tentar a ferro e fogo preservar sua nostalgia "aristocrática") .

- Realmente o potencial da desfaçatez e cinismo de nosso jornalismo comercial não tem limites! 

Depois de termos sido submetidos ao constrangimento que foi assistir o jornalista responsável pelo respeitado Observatório da Imprensa na TV Brasil defender que jornalista não pode ser convocado para uma CPI, agora isso!

Quem, qual instituto de pesquisa, lhes informou que esse crime em especial teve o condão de, somente ele, produzir a comoção nacional, em meio a uma enxurrada de denúncias de corrupção, indícios de malversação de dinheiro público, mortes diárias de enfermos pobres nas portas dos hospitais públicos, orçamentos astronômicos de obras em razão do deus da Copa, aviltamento sistemático do servidor  - médicos, professores, policiais, bombeiros - e dos serviços públicos?

Com que autoridade moral ousam dizer e repetir diariamente esse aviltante (para eles, para a sua profissão) bordão?

Pois, daqui, desse ínfimo espaço democrático e revolucionário (sim, porque "pela primeira vez na história" esses senhores não detêm mais o poder exclusivo da manifestação pública de suas opiniões, já que, nós outros, a plebe ignara da população apenas lhes servia para ouví-los e ser desavergonhadamente apropriada por meio dos epítetos que sempre lhes foram tão caros, como "o povo", "a nação", "a população"...), em verdade lhes digo:

- Senhores e senhoras jornalistas e executivos das empresas de comunicação comerciais:

O que de fato produz comoção na população é vocês cinica e ostensivamente terem lançado um manto de silêncio sobre as terríveis denúncias efetuadas através do livro A Privataria Tucana;

é vocês, com o cinismo tradicional que lhes caracteriza, se mostrarem tendenciosos e aprioristicos na apresentação e tratamento dos fatos, como recentemente vimos mais uma vez, por ocasião da acusação perpetrada, um mês depois, por um Ministro da mais alta jurisdição nacional - a jurisdição constitucional -, que já foi inclusive o seu Presidente;

é vocês, céleres, exibirem a solidariedade de classe e sairem na defesa da indefensável excrescência do jornalismo nacional que é a revista Veja;

é vocês concentrarem todos os seus esforços em dois vetores essenciais: manter a população distraída, superalimentada por uma programação abjeta, porque imbecilizante, e maximizar os LUCROS a qualquer custo - mesmo que seja pela via da violação dos direitos trabalhistas e humanos (decorrente do aviltamento da dignidade humana, substrato de todo direito);

é vocês continuarem a manipular as "notícias" sobre a Parada do Orgulho de São Paulo (e todas as demais), exibindo exclusivamente imagens que reforcem a ideia de exotismo, carnavalização, superficialidade, bizarrice;

é vocês continuarem insistir em deturpar, apequenar e desqualificar um evento político de dimensões gigantescas e de potencial altamente pedagógico em termos democrático e civilizatório.

Sim, porque congregar cerca de três milhões e quinhentas mil pessoas em uma avenida principal da maior cidade da América Latina, sem que se vejam graves manifestações de violência; com todos e todas podendo atravessar o seu percurso expressando e vivenciando a possibilidade do exercício e convívio democrático, por mais que vocês continuadamente se esforcem por negar e deturpar, é algo profundamente revolucionário em termos de conquista democrática em um país com a nossa história ditatorial, autoritária!

Afinal, são apenas dezesseis anos dessa experiência singular, que do nosso jeito, com todas as mazelas e grandiosidade que nos constitui como povo e nação, um segmento da sociedade brasileira historicamente desqualificado, transformado em abjeto, decidiu sair das sombras e ocupar o espaço que lhes é de direito no claro do dia, de todos os dias.

- Basta desse esforço cotidiano em nos manter na ignorância, desinformação! 

Vocês como profissionais formadores de opinião não são capazes de se opor aos seus patrões e se prestam, dóceis, alegres e servis, a esse papel ancestralmente desempenhado de ponta de lança da preservação do analfabetismo cidadão.

No momento crucial por que passa a nossa democracia ainda em construção, eu sinto pena e vergonha de vocês, senhores e senhoras jornalistas e "âncoras" (?) das empresas jornalísticas comerciais, sobretudo as televisivas. E lhes dirijo, daqui, uma singela pergunta:

- Como conseguem se olhar no espelho e dormir em paz?

Um comentário:

Rita Colaço disse...

Aceito publicamente o reparo realizado pela jornalista Daniela Novaes, do portal Câmara em Pauta:


Terminei por ofender os profissionais (artistas) do Circo, que em absoluto, não merecem!

Minhas públicas desculpas, portanto.