domingo, 28 de junho de 2009

POR QUE CRIMINALIZAR A VIOLÊNCIA CONTRA HOMOSSEXUAIS? - II

Após postar o texto anterior, sintonizei o programa do Rolando Boldrim. Depois de contar seus causos com a graça e talento que lhe são peculiares, convidou ao palco um grupo para cantar. Era um trio, formado entre outros, segundo informou depois, pelo seu Produtor, agora investindo em competência outra. Cantaram um samba de breque do Moreira da Silva - o saudoso Kid Morengueira, de grande originalidade.

O sintoma se manifestou quando, depois dele próprio - o produtor agora cantor - contar um causo, passou a cantar uma música cujo enredo tratava da decepção de um homem que, ao conhecer uma mulher muito bonita, por ela se apaixona e se casa, ignorando a advertência de um amigo. Esta, feita sob a forma de metáfora, ligava à moça que despertara a paixão do protagonista à figura da modelo Roberta Close.

O ápice foi atingido quando o cantor chegou ao trecho da letra que contava a reação do marido durante a noite de núpcias: Ante a declaração de que, após descobrir-se enganado, agride a "mulher", o auditório explode em palmas vibrantes.

Como mencionado na postagem anterior, as manifestações de intolerância e estigmatização da diferença encontram-se presentes em todos os setores de nossa sociedade. A música popular não poderia ser exceção.

Como também foi mencionado, o que torna a violência tão arraigada é o fato de que tornou-se incorporada pelas pessoas de forma inconsciente. Como um senso comum: partilha-se da mesma noção deturpada de que é legítimo e correto humilhar, desqualificar, ridicularizar outrem, simplesmente porque diferente.

Esse sentimento de concordância, de tão profundo, corriqueiro, torna-se imperceptível à consciência crítica daqueles que o partilham. Não conseguem perceber o quanto é abjeta semelhante forma de "humor". É a chamada violência simbólica - porque se manifesta assim, "inocentemente", por meio de símbolos, de representações culturais.

Nem por isso menos cruel ou danosa. Muito ao contrário.

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