Passei a semana discutindo sobre o resultado efetivo da gestão da SuperDir.
Foram quatro anos de seminários, conferência estadual, preparação à conferência nacional, criação da Câmara Técnica para a implantação das diretrizes do Programa Brasil Sem Homofobia, seminários com a área da segurança pública, com vistas a promoção de uma cultura, entre os policiais, mais conforme com os Direitos Humanos (vale dizer, com o respeito e a promoção da dignidade da pessoa), criação do Conselho de Direitos (que apenas agora é que divulga o Regimento Interno do Conselho de Direitos da população LGBT fluminense)...
E nisso passaram-se quatro anos.
O que eu venho perguntando é:
- Foi feito o suficiente? Quero dizer, fez-se o possível, o exequível, diante da estrutura de governo disponibilizada pelo Governador?
Quais as políticas sociais efetivadas? Que mecanismos de validade e efetividade à legislação antidiscriminação LGBT existente foram instituídos? Qual a política de proteção, por exemplo, à velhice LGBT? Aliás, qual é a política em elaboração ao enfrentamento da inversão da estrutura demográfica, a ocorrer no exíguo prazo de vinte anos, em suas implicações para o segmento LGBT?
De meu ponto de vista o movimento LGBT fluminense perdeu a oportunidade histórica de fazer acontecer, ao desperdiçar a primeira experiência de ocupação de uma estrutura de governo no nível de uma superintendência de direitos, integrada na estrutura da Secretaria de Política Social de um Estado.
Ao confrontar as ações individuais do Governador do Estado com aquelas promovidas pela sua SuperDir, o que encontro é um descompasso, um fosso.
O ocupante designado, ao meu modo de ver, perdeu-se entre organizações de Paradas, Seminários, Conferências e que tais. Mas descuidou-se do tema tão caro e tão propalado pelo movimento - AS POLÍTICAS SOCIAIS.
Após ver declarada a inconstitucionalidade de sua iniciativa de reconhecer a isonomia entre servidores LGBTs e heterossexuais, o Governador do Rio de Janeiro entra com a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) junto ao Supremo, a fim de que magna corte faça cessar a infração ao preceito constitucional que veda a discriminação (negativa de isonomia), garantindo aos cidadãos LGBTs a fruição dos mesmos direitos fixados a todo e qualquer cidadão, notadamente no que se refere à conjugalidade.
Enquanto isso, a sua Superintendência dos Direitos (integrante da estrutura de Assistência Social), realiza o que, em termos de impacto efetivo no caminho da superação da discriminação e violência contra o segmento?
Somente agora (divulgado no dia 09; publicado no DOERJ em 24/03) é que sai o Regimento Interno do Conselho Estadual de Direitos a População LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) do Estado do Rio de Janeiro.
Como disse antes, sequer placa na porta com a sigla "maldita". Nem no sítio oficial do governo do estado, da SEASDH-RJ aparece qualquer programa para o segmento, enquanto que para outros igualmente vulnerabilizados, sim (negros, idosos, portadores de deficiência), como disse em 2 postagens neste blog Comer de Matula (em janeiro e fevereiro).
- E aonde é mesmo que esteve o MOVIMENTO LGBT FLUMINENSE durante todo este tempo? Onde o Fórum Fluminense LGBT? Qual a sua incidência qualificada? A sua atuação crítica distanciada, independente, autônoma, cobrando e repassando informes ao segmento...?
- Qual foi a efetiva postura do movimento, dentro de seu sagrado dever de, com autonomia e independencia, cobrar resultados, na defesa do segmento que representa?
E, aliás, o que é mesmo que sabe das leis fluminenses e suas incompletudes (inefetividades, ineficácias) O MOVIMENTO LGBT DO RJ?
Mas parece que o Superintendente sente-se plenamente safisfeito com o seu desempenho frente ao órgão, pois convida à uma feijoada no melhor estilo pré-eleitoral do "di grátis", sob a epígrafe da comemoração aos seus "21 anos de atuação pela cidadania LGBT" - acaso estaria o senhor Superintendente a preparar uma sua eventual candidatura? Bem, isso explicaria o fato de os últimos meses terem sido marcados por ações tão postergadas - como o Regimento Interno de um Conselho de Direitos formalmente criado (em termos jurídicos) há tanto tempo.
Ao meu ver, estas são questões que precisariam ser colocadas em discussão, integrar verdadeiramente a pauta do Movimento LGBT nacional - tanto para o RJ quanto para os demais estados e Governo Federal: a efetividade do discurso em reconhecimento da necessária isonomia para o segmento LGBT brasileiro.
A partir daí, nos posicionarmos frente aos candidatos.
Mas, sempre, com autonomia, distanciamento crítico, independência. Jamais de rastros, com obsequiosa gratidão subserviente.
Para mim, Direitos são conquistados; jamais outorgados, concedidos.
Mas o título desta postagem é a juventude LGBT e a esperança de futuro, não é mesmo?
É que acabo de ler texto socializado pelo Diretor da Escola Jovem LGBT de Campinas, Deco Ribeiro, sobre o evento promovido pelo E-Jovem de Campinas no DIA DO SILÊNCIO, em lembrança às opressões vivenciadas na Escola pelos LGBTs.
Ver o nível de consciência crítica e política desses jovens, expresso no texto e nas imagens do evento, fizeram-me compreender que uma grande força transformadora (e agregadora) está a ser catalizada pelos integrantes desta nova geração.
Sim, alguma coisa acontece. E não apenas em Campinas. Já nos deu mostras o Rio Grande do Sul, por intermédio do Projeto Gurizada, do Nuances. Espraia-se também por Sorocaba e, certamente, há de se fazer presente e vibrante em outras tantas cidades por esse Brasil continental.
Os e as jovens estão aí. Cheios e cheias de garra, ousadia, inventividade e, muita, muita alegria. Sem esperar que lhes concedam - espaço, oportunidade, direitos. Sua capacidade ao protagonismo e o seu potencial transformador podem ser percebidos através das imagens apresentadas.
Fizeram-me recordar a canção ME GUSTAN LOS ESTUDIANTES, de Violeta Parra, imortalizada na voz de Mercedes Sosa. (Ainda que não deixe de perceber o aspecto de classe, nela presente, ao apenas destacar carreiras universitárias).
Me gustan los estudiantes
¡Que vivan los estudiantes,
jardín de las alegrías!
Son aves que no se asustan
de animal ni policía,
y no le asustan las balas
ni el ladrar de la jauría.
Caramba y zamba la cosa,
¡que viva la astronomía!
¡Que vivan los estudiantes
que rugen como los vientos
cuando les meten al oído
sotanas o regimientos.
Pajarillos libertarios,
igual que los elementos.
Caramba y zamba la cosa
¡vivan los experimentos!
Me gustan los estudiantes
porque son la levadura
del pan que saldrá del horno
con toda su sabrosura,
para la boca del pobre
que come con amargura.
Caramba y zamba la cosa
¡viva la literatura!
Me gustan los estudiantes
porque levantan el pecho
cuando le dicen harina
sabiéndose que es afrecho,
y no hacen el sordomudo
cuando se presenta el hecho.
Caramba y zamba la cosa
¡el código del derecho!
Me gustan los estudiantes
que marchan sobre la ruina.
Con las banderas en alto
va toda la estudiantina:
son químicos y doctores,
cirujanos y dentistas.
Caramba y zamba la cosa
¡vivan los especialistas!
Me gustan los estudiantes
que van al laboratorio,
descubren lo que se esconde
adentro del confesorio.
Ya tienen un gran carrito
que llegó hasta el Purgatorio
Caramba y zamba la cosa
¡los libros explicatorios!
Me gustan los estudiantes
que con muy clara elocuencia
a la bolsa negra sacra
le bajó las indulgencias.
Porque, ¿hasta cuándo nos dura
señores, la penitencia?
Caramba y zamba la cosa
¡Qué viva toda la ciencia!(1960-1963)
Segue o texto citado :
E-JOVEM pára Campinas no Dia do Silêncio
Lohren Beauty e o E-CAMP, o Grupo E-jovem em Campinas, mobilizaram milhares de adolescentes e jovens nessa sexta, em pleno centro da cidade, par a marcar o Dia do Silêncio. Esta data, 16 de abril, é lembrada mundialmente como forma de protesto contra os xingamentos e agressões sofridas por alunos LGBT nas escolas e foi celebrada pela prim eira vez no Brasil.
"Gays, lésbicas, travestis, transexuais, drag queens! Essa é a diversidade sexual que existe dentro da escola. E as escolas têm de aceitar isso!", afirmou Chriss Bop, membro do E-CAMP e apresentador do evento. "Não podemos deixar que nos chamem de viadinho e abaixar a cabeça, temos que enfrentar," completou a presidente do E-JOVEM, Lohren Beauty. "Dizer 'Sou sim, e daí', arrasar no carão e sair, belíssima."
A manifestação organizada pelos próprios jovens do grupo reuniu na praça Bento Quirino, marco zero da criação de Campinas, cerca de dois mil jovens que acompanharam - muitos pela primeira vez - shows de 24 drags e 7 bailarinos . "A gente não tem idade pra entrar em boate, então ficamos só ouvindo os nomes das drags top, vendo os vídeos no Youtube e sonhando," contam os amigos Celso e Samuel, de 17 e 16 anos.
No meio do show, Lohren agradeceu a participação da galera do E-SOROCABA, que viajou até Campinas para prestigiar a festa, e pediu um minuto de silêncio em respeito a todos os alunos e alunas LGBT que, por homofobia, são diariamente silenciados nas escolas. "Até arrepia ver essa multidão toda quieta," comentou ela. "Acho digno!" O Dia do Silêncio surgiu em 1996, nos EUA, e é celebrado sempre em abril.
O trio que segurou as pontas do evento:
Pikeno, Lohren Beauty e Chriss Bop
(Lohren Beauty é presidente do Grupo E-jovem e Gerente da Escola Jovem LGBT)
Referências:
http://br.groups.yahoo.com/group/listagls/message
http://decoribeiro.blogspot.com/
http://www.cancioneros.com/nc/1045/0/me-gustan-los-estudiantes-violeta-parra
http://lohren-beauty.blogspot.com/
http://www.gloriagodiva.com/artigos_entrevista1.html
Todas as imagens postadas são oriundas do texto em referência e, portanto, de autoria dxs organizadorxs do Ato Político.
Um comentário:
É interessante como esse movimento jovem contrasta coma imagem que a Veja passou da juventude LGBT em "Ser jovem e gay. A vida sem dramas.” uma juventude que não tá nem ai ára o movimento. VEMOS QUE NÃO É BEM ASSIM... Para felicidade do povo e desgraça da Veja.
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