segunda-feira, 28 de junho de 2010

28 de junho, Os LGBTs e o Assassinato de Alexandre Ivo

Hoje, dia 28 de Junho, representa um dia muito especial para a população de gays, lésbicas, travestis, transexuais, bissexuais.

Foi num 28 de junho que gays, travestis e lésbicas se revoltaram contra a opressão de policiais, muitos deles corruptos, em um Bar chamado Stonewall Inn, na cidade de São Francisco, Estado da Califórnia, EUA.

Naquele dia, sabe-se lá porque - ou porque estava muito calor, ou porque havia contenção de água, o fato é que naquele dia gays, travestis, drag queens e lésbicas decidiram parar de se sujeitar às chantagens dos policiais corruptos. E partiram para o enfrentamento. Segundo os modos que a ocasião permitia.

A partir daquele dia 28 de junho de 1969 gays, travestis, drag queens, transgêneros, lésbicas, bissexuais tomaram em suas mãos a sua própria significação.

Se antes eram definidos a partir de fora, notadamente de setores médicos, psicológicos e religiosos, com o advento daquilo que entrou para a História como a Rebelião de Stonewall Inn, passaram, na qualidade de sujeitos de si mesmo e da própria história, a ressignificar a sua própria identidade social, fundada em torno da direção de seu desejo afetivossexual e esquecida de tudo o mais que compõe o humano.

É por essa razão que, na atualidade, as chamadas homossexualidades fora da norma (hetero) na maioria do planeta celebra o dia de hoje como o Dia da Dignidade Homossexual - traduzido ao pé da letra no Brasil e em alguns países latinoamericanos para o dia "do orgulho" gay.

Embora incontestáveis os ganhos políticos decorrentes da visibilidade massiva, do enfrentamento nos diversos campos às anteriores representações estigmatizantes, desencadeando, sem sombra de dúvida, avanços em termos de mentalidades se compararmos com quarenta anos atrás, igualmente irrefutáveis os desafios que ainda se apresentam, a desafiar reflexões críticas, estratégias de enfrentamento, ampliação da base de apoio.

Entre esses, o reconhecimento do caráter familiar as relações homoafetivas e a consequente isonomia sociojurídica entre os distintos modos de modelos familiares existentes no mundo empírico; e a tipificação, dentre o rol de delitos de discriminação expressamente vedados em nossa Constituição, daquele motivado pelo ódio ou aversão às homossexualidades - homofobia.

Nesse 28 de Junho de 2010, seriamente marcado pelo assassinato de um menino que, independentemente de sua orientação sexual (até porque era demasiado jovem), foi alvo da violência letal que comumente é desencadeada em face das homossexualidades e pela violência - até este ponto das narrativas gratuita - desferida na Lapa, RJ, centro da boemia carioca, em face de um ativista do movimento universitário pela diversidade sexual, não vejo muito o que se comemorar.

A mim me parece muito mais um dia para amplas e aprofundadas reflexões. Sobre os rumos e ações dos movimentos LGBTs, suas pautas e encaminhamento das mesmas. Formas de interlocução com o público-alvo e com a sociedade são alguns dos temas que se me afiguram prioritários.

No que respeita ao bárbaro assassinato do menino Alexandre, é preciso se ter em mente que o fato de sua orientação sexual torna-se irrelevante, na medida em que o que contou para o covarde e hediondo crime, foi o "parecer ser", aliado ao fato de sua postura determinada - embora a sua tenra idade - em prol dos direitos, contrária a acusações inverídicas, a intimidações.

Não haverá nada no mundo capaz de restituir a vida dessa criança. Essa é uma perda injustificável e insubstituível. Ninguém, também, é capaz de se colocar no lugar de sua mãe e aquilatar a imensidão de sua dor.

De nossa parte, apenas nos cabe o respeito, o profundo respeito pelo seu pesar, pela dimensão incomensurável de sua perda.

Também, se acaso lhe for possível compreender, tentar esclarecer que aquilo que os movimentos LGBTs buscam, de modo algum trata-se de oportunismo, mas, sim, de se evitar que continuemos diariamente com essa contabilidade macabra das vítimas da intolerância, da estigmatização dos diferentes.

Por isso é que se clama para que os parlamentares da República tenham em mente que o respeito à dignidade da pessoa humana não passa por credos religiosos - antes do mais, trata-se de uma questão eminentemente da esfera civil, republicana.

Queremos viver em um país onde as pessoas sejam respeitadas porque são pessoas, não por serem cristãs, evangélicas, muçulmanas, judias, candomblecistas, materialistas, atéias.

Um país onde seja bom viver e construir um projeto de futuro - para nós e para os que hão de vir.

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