sexta-feira, 19 de novembro de 2010

QUE PAÍS É ESTE? - Certamente não é (ainda) um país Fraterno, Solidário, Justo, muito menos, Cristão!

O jovem de 19 anos, baleado por militar do exercíto no Parque Garota de Ipanema, após a Parada do Orgulho Gay, mostra seu ferimento. Foto de autoria de Severino Silva, da Agência O Dia



 Depois de muito negar que algum integrante da corporação lotado no Forte de Copacabana tivesse disparado sua arma de fogo no último domingo, dia 14, quando se realizou a Parada Gay e um jovem foi baleado na barriga no Parque Garota de Ipanema, por homens usando farda de camuflagem do Exército, eis que nesta quinta-feira (18/11), finalmente, a instituição militar emite nota pública revelando que o criminoso homofóbico confessou ter sido o autor do disparo.

 
Melhor teria agido se, ao invés de se apressar em negar a participação de elemento da corporação, tivesse sido diligente em informar sociedade que iria apurar. Mas não. Optou por uma negativa apressada, mesmo diante das reiteradas afirmações do rapaz agredido e de sua mãe, sempre uníssonos em declarar que os agressores usavam farda de camuflagem do Exército. Preferiu se basear em evidências superficiais e, portanto, frágeis.

Embora o Parque Garota de Ipanema não seja da jurisdição militar, os criminosos sairam do Forte à revelia de seus superiores (o que já aponta para o seu propósito de confrontar pessoas cuja diversidade não são capazes de reconhecer). Após o crime, o atirador repôs a munição, dificultando a apuração.

Dois são os envolvidos identificados pelo Exército: Ivanildo Ulisses Gervásio e Jonathan Fernandes  da Silva. Ambos Sargentos. O que significa que ocupam o posto de instrutores de soldados e cabos; formam as mentalidades das novas gerações de combatentes.

Há alguns anos atrás, foram jovens oficiais também do Exército os responsáveis por haver entregue jovens moradores da Providência a criminosos de uma comunidade rival, cientes de que poderiam ser mortos, o que de fato aconteceu.

Conforme o jornal O DIA, a tenente responsável pela apuração do crime praticado após a Parada Gay "confirmou que o atirador possui uma peculiaridade na fala e que foi comprovado vestígio de pólvora nas mãos dele, após exame."

Isso significa que a testemunha que espontaneamente compareceu à Delegacia na noite de terça-feira (16), não mentiu. Ela, que conta com a não divulgação de sua identidade,  para a sua proteção e a das investigações, declarou que, sim, a farda era do Exército e que o militar criminoso " falava com "voz muito rouca, marcante". Douglas, o jovem agredido, afirma em seu depoimento perante a 14ª DP que o militar  que lhe deu o tiro tinha a língua presa.

Segundo a nota divulgada pelo Comando Militar do Leste, os envolvidos já se encontram em prisão administrativa na própria corporação (Forte de Copacabana). Responderão, ademais da ação penal, ao competente inquérito penal militar. O que, aliás, é o que determina a legislação. No entanto, na medida em que, conforme o relato da vítima, foram três os militares que o abordaram, falta ainda identificar um.

Na nota pública divulgada através da imprensa, o Comando Militar do Leste esclarece que "o Exército Brasileiro reafirma o seu firme compromisso de não admitir, em hipótese alguma, que desvios de conduta de quaisquer dos seus integrantes fiquem impunes". 

- É o que se espera de uma nação que se pretende democrática, republicana, regida por normas jurídicas impessoais, universais. Nem menos, nem mais. Apenas a efetividade do império dos princípios Constitucionais.

Na tarde de ontem (18/11), ainda segundo a mesma fonte, o jovem agredido compareceria à 14ª DP (Leblon), para fazer o reconhecimento oficial. O delegado teve ainda o cuidado de providenciar uma farda do Exército (verde) para que a vítima igualmente realizasse a sua identificação, já que houve quem imaginasse tivesse o agredido se confundido com a farda de camuflagem do Batalhlão de Operações Especiais da Polícia Militar. 

De acordo com o Jornal do Brasil, foram ouvidos, nessa quinta-feira, na 14ª DP, Douglas, o jovem agredido, e mais quatro testemunhas. Uma delas declarou em seu depoimento que o agressor, fardado, abordara o grupo com a seguinte afirmação: "Vocês são uns veadinhos. São uma vergonha para a família de vocês." Ato contínuo, teria disparado contra o abdomen de Douglas.

Douglas Igor Marques, o jovem de 19 que foi atingido pelo tiro, tem a sorte de ter a mãe que tem. Dona Viviane, sua genitora, é estudante de Direito e sabe o quanto indigno são tais manifestações de discriminação e intolerância:

"O meu sentimento é de indignação com esse preconceito idiota. Sou estudante de Direito e para mim esse tipo de coisa é difícil de aceitar". 

Inconformada com o significado do ato praticado pelo sargento do Exército, mesmo com receio de sua família vir a ser vítima de represálias, assegura que levará a responsabilização adiante.

Enquanto isso...

Sobre o bando de homofóbicos que saiu pela Avenida Paulista atacando jovens com socos, pontapés e golpes de lâmpada flourescente por suposta homossexualidade, mais nenhuma notícia depois da libertação de todos os envolvidos.


Agora à noite, depois do Repórter Brasil, o canal 2 do Rio de Janeiro (antiga TV Educativa) transmitiu um especial sobre a disseminação da prática da exploração sexual de meninas pelo país. 

As informações reveladas fazem-nos indagar, com perplexidade: Por que nossa sociedade é tão indiferente a essas práticas criminosas? Por que a violação e exploração sexual de crianças, notadamente meninas, é prática tão arraigada em nosso país? 

Por que, embora se saiba o quão corriqueiros são ainda esses fatos e se tenha plena consciência de seus efeitos nefastos, vez que destroem vidas e trajetórias de crianças de tenra idade, não se vê nenhum credo religioso se bater cotidianamente pela sua superação?

Por que, igualmente, não se vê grupos de jovens, militares ou praticantes de artes marciais, se arvorarem no papel de agentes cívicos e saírem à noite, pelos postos de gasolina, a fiscalizar se crianças estão sendo aliciadas para o comércio do seu sexo tão infantil?


Como diz o Caetano: "Algo está fora da ordem".

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Crédito da imagem: Severino Silva, da Agência O Dia.

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