Tenho visto diversas vezes o deputado Jean Wyllys ser provocado, sob a argumentação de que estaria se dedicando "demais" às questões do reconhecimento dos direitos humanos aos LGBTs; que há problemas mais "importantes" para merecer-lhe a atenção; que ele foi eleito para atuar em nome de todos e não apenas dos LGBTs...
Jean Wyllys é o primeiro homossexual assumido a ser eleito como deputado federal. Ele jamais ocultou, em sua campanha, que esse seria o tema privilegiado, em razão mesmo das forças que buscam, contra a Constituição da República e todo o ordenamento jurídico nacional, instaurar um estado "evangélico" no Brasil.
Dada a perspectiva fundamentalista dos parlamentares religiosos que nada mais tem feito a não ser dedicar os seus mandatos a impedir que a população não temente à sua concepção de Deus goze dos direitos civis e sociais destinados a todo e qualquer ente humano, é perfeitamente compreensível, justificável e desejável, que haja parlamentares outros comprometidos com a efetividade das normas constitucionais, entre elas a laicidade do estado republicano e democrático brasileiro; o princípio da não-discriminaçao; da igualdade de todos perante a lei; da fraternidade e da inclusividade como princípios fundamentais da nação brasileira; da autodeterminação; da liberdade.
Jamais vi, porem, alguem interpelar esses parlamentares fundamentalistas para dizer-lhes que
- O Estado é Laico;
- a família à qual eles atribuem a imagem de sagrada, na realidade se constituiu com a finalidade exclusiva de transmissão da herança;
- que a família foi, por muitos e muitos séculos da era cristã, um ritual por meio do qual se compravam esposas;
- que o casamento sempre foi leigo, apenas tendo se tornado sacramento religioso no século XVIII;
- que é no seio dessa família que tanto os fundamentalistas endeusam onde maciçamente se praticam os crimes de abuso sexual e violência física de menores, adolescentes e mulheres.
Jamais vi alguem interpelar os parlamentares fundamentalistas para dizer-lhes que:
- sua função NÃO É instalar um estado evangélico, mas OBEDECER E FAZER CUMPRIR A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA E OS ACORDOS E TRATADOS INTERNACIONAIS, sobretudo na área de Direitos Humanos;
- que existem coisas muito mais sérias e importantes do que querer impedir que as pessoas se amem de acordo com o seu desejo;
- que há coisas muito mais sérias e importantes do que usar o dinheiro público e o cargo no qual estão investidos (para representar a população inteira) para perseguir e discriminar, em razão de SUA crença pessoal, íntima, particular, o modo como homossexuais, travestis e transexuais constituem suas famílias.
Enquanto esses parlamentares obsedados usam seus cargos republicanos para, em total desrespeito à Constituição da República, promover uma perseguição religiosa a um grupo de cidadãos,
* milhares de crianças são abusadas sexualmente diariamente por seus pais, tios, padrastos, primos, padres, pastores;
* milhares de mulheres são diariamente vítimas de violência física, psicológica e sexual por seus maridos, namorados, companheiros; ex-maridos, ex-namorados, ex-companheiros.
* milhares de crianças se encontram nas instituições asilares, sem ter quem as adote, porque o amor filial dos sacrossantos casais heterossexuais é seletivo como quando se escolhe uma mercadoria - daí não terem amor para dar a filhos adotivos se estes forem negros, doentes, tiverem passado da fase de bebê.
Religião, senhores e senhoras deputados e deputadas, é da esfera íntima e pessoal do indivíduo. Na esfera cívica prevalecem as normas civis e criminais, nacionais e internacionais, decorrentes de acordor e tratados válidos no país.
O Brasil não se tornará um Vaticano. Nós não lutamos contra a Ditadura militar para agora nos vermos subjugados a uma ditadura religiosa e, pior, fundamentalista.
Nosso Brasil é laico, republicano, democrático e mestiço. Não apenas na etnicidade mas tambem e sobretudo no seu sentimento religioso.
A Inquisição do Santo Ofício não conseguiu; os séculos sob o domínio da Companhia de Jesus não conseguiram - Não serão vocês, falsos cristãos, que conseguirão transformar o Brasil numa nação totalitária, fundamentalista, obscurantista.
4 comentários:
Também me incomoda esse papo de acusarem o Jean Wyllys de ser um deputado que representa apenas homossexuais (não que exista um problema nisso, mas na minha compreensão não é isso que ocorre). Eu sou hétero e, apesar de não ser eleitora dele por ser de outro estado, acredito que ele seja um dos poucos políticos que realmente sinto que representam um pouco do meu pensamento em Brasília. No começo tinha um pé atrás, um preconceito não por ele ser homossexual, mas por ser "ex-BBB" (hehehe), mas me surpreendo diariamente com sua fala. Sinto que ele ajuda a criar um mundo melhor não apenas para o público LGBT, mas para todos os brasileiros, porque apesar de essa não ser uma questão que me afeta diretamente, eu quero viver em um Brasil onde o respeito prevaleça. Ao defender os direitos dos LGBT, sinto que ele defende os direitos humanos como um todo.
O melhor é que a religião tenta se acobertar pela base conservadora, que por vezes toma atitudes cegas e "descrentes".
O pior é tentar por em prática a posição "não religiosa" (que fica só na teoria...) brasileira. Ainda mais quando um estado que se diz laico guarda feriados católicos...
Seu texto é excelente.
Faço das suas, minhas palavras!
Muito bom texto!
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