sexta-feira, 30 de março de 2012

Religiosos organizam grupo de culto no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

Avança o projeto Igreja Estendida

Além de dominar presídios, com frases bíblicas em suas fachadas, igrejas (Igrejas e não espaços ecumênicas!) em seu interior e juramento cívico no ato da posse de Inspetores invocar o nome do deus, agora é o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro que passa a ser alvo do projeto Igreja Estendida.

Toda sexta-feira, às 10h, na Lâmina I - 5º andar, a antiga Capela, que na administração passada foi transformada em Espaço Ecumênico, agora abriga grupo de culto.

Uma pergunta, inevitável: Acaso se algum grupo de adeptos do candomblé solicitasse o espaço ecumênico para suas reuniões (mesmo que sem o uso de tambores, incensos, velas), será que lhe seria deferido?
"Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas". (Mt 6:33) Este é o versículo no pé do cartaz.
Ou seja, a "sua justiça", nessa interpretação do deus bíblico, deve vir primeiro do que as normas jurídicas civis - Constituição e demais regulamentos legislativos do sistema jurídico pátrio.

Confira:

  Todos os espaços são igreja

"A razão bíblica para a existência da igreja, em todas as suas formas, é buscar, de forma ousada, tomar posse da sociedade em que vivemos  (WAGNER, 2007, p. 10) .

 Ora, se a razão, o motivo, o sentido "bíblico" para a existência da igreja é tomar posse da sociedade, é preciso que se construa e implemente um projeto para a conquista dessa sociedade, para a instauração de um "governo da igreja" (WAGNER, 2007, p. 11) .

 Nesse projeto - estender a igreja para além do templo privado (igreja nuclear) -, há que se conquistar todos os espaços onde se trabalhe.

Assim, cabe a todos os "cristãos" participar desse projeto de conquista e lutar para transformar o seu local de trabalho em uma igreja, estendendo-a então a todos os espaços sociais; todos! Porque em todos eles é preciso ganhar almas para o esse projeto de divindade.
E, assim, vão construíndo grupos de estudos bíblicos, grupos de oração, seja em qual seja a instituição - preferencialmente pública! - Repartições,  Universidades, Parlamentos e, agora, o Judiciário.

Por meio dessa estratégia, buscam  reintroduzir o estado religioso. 

O Reino do deus é aqui
Para alcançá-lo, utilizam-se do discurso místico:   a implantação do "Reino de Deus". - Mas, qual deus? 

- O de sua concepção, claro! Sequer admitem pensar a possibilidade de que as divindades das outras expressões religiosas são igulamente legítimas!Como igualmente legítima é a opção de não professar crença nenhuma.

E, assim, partem para a construção do "Reino" dessa específica concepção de divindade nos espaços cívicos, onde, constitucionalmente, deve prevalecer os princípios da Constituição da República.
Afirmam que o verdadeiro "Reino de [seu] Deus não está confinado nos muros de uma igreja local"."Não é simplesmente uma metáfora ou uma figura de linguagem; ele é tangível. [...] Deve ser encontrado onde quer que haja indivíduos exaltando Jesus Cristo como seu Rei." Mas não apenas. 

As pessoas que professam essas religiões não se contentam em permanecer apenas "onde haja indivíduos que exaltam Jesus Cristo como seu Rei". Não. Eles querem mais. Muito mais.
O desejo de Deus é que os valores, as bênçãos e que a prosperidade do Reino de Deus permeiem todas as áreas da sociedade. (Idem, p. 15. Negritei.)
Ou seja, ninguém tem mais o constitucional direito à liberdade de crença - inclusive a liberdade de não professar crença alguma. A sua concepção peculiar do deus deve ser imposta sobre toda a sociedade, em todas as suas áreas.

Esse o novo paradigma cuja implantação encontra-se em curso.
Diferentemente do católico, onde se devia buscar a salvação em um outro mundo, que viria depois, na eternidade, pois este terrenal é mau e pecaminoso, agora o postulado religioso desses grupos é:  
Não se deve abandonar o mundo à ação desimpedida de Satanás.
 Há que se realizar a disputa contra Ele.
Por Satanás entenda-se toda e qualquer visão de mundo distinta da deles, fundamentada numa leitura bíblica ahistórica, seletiva, que pinça algumas passagens e ignora e omite outras, integrantes do mesmo contexto cultural dos hebreus, nos tempos em que viviam a necessitar de filhos, muitos filhos, principalmente homens - por uma questão de sobrevivência e poder -, para que pudessem guerrear e cuidar da terra.

E para isso - para disputar as almas com Satanás, ganhando-as para o deus - é preciso fazer com que a igreja não se restrinja apenas às paredes do templo (igreja nuclear); que não se contente com aquelas almas que ali foram "espontaneamente". 
É preciso buscá-las em toda parte. Inclusive e preponderantemente nos ambientes de trabalho - em todos eles, sobretudo os públicos. Afinal, é precisamente ali onde se passa o maior número de horas por dia.
Referência:
WAGNER, C. Peter. Os cristãos no ambiente de trabalho. Como o povo de Deus pode transformar a sociedade. São Paulo: Ed. Vida, 2007. - O autor é "professor de Crescimento da Igreja no Fuller Theological Seminary School of World Mission, Pasadena, EUA, por 28 anos."

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