Fontes: Yahoo News e site da APA
"Um dia após a publicação do relatório oficial da Associação Norte-Americana de Psicologia (APA), afirmando que não há qualquer evidência científica que comprove a possibilidade de mudança na orientação sexual por meio de terapia, Alan Chambers, presidente do Grupo Exodus Internacional – uma das maiores organizações cristãs voltadas para a ‘cura’ de pessoas LGBT – declarou que “é um passo positivo o relatório científico respeitar a crença religiosa das pessoas”, completando: “mas eu vou além: não se deve negar a possibilidade de haver mudança nos sentimentos de uma pessoa”.
O relatório da APA, de 138 páginas, traz os resultados de uma pesquisa de dois anos, feita por um comitê especial criado para tentar resolver a questão do envolvimento da Psicologia no processo de “cura” de pessoas LGBT, que é uma iniciativa principalmente de psicólogos cristãos. Foram estudadas 83 pesquisas feitas desde 1960e não foi identificada qualquer resposta positiva à terapia. Ao contrário, “muitas das pesquisas continham falhas sérias de procedimento. Poucos estudos podiam ser considerados metodologicamente corretos e nenhum deles avaliou sistematicamente danos potenciais aos sujeitos, causados pelo esforço da conversão”, afirma a psicóloga Judith Glassgold, da Universidade de Rutgers, que presidiu o
comitê.
Ela espera que o relatório venha acalmar os ânimos dos debates que vem ocorrendo há anos sobre o tema: “Os dois lados precisam se educar sobre essa questão. Os psicoterapeutas religiosos precisam abrir seus olhos para os aspectos potencialmente positivos de ser LGBT. Os terapeutas céticos e seculares devem compreender que algumas pessoas vão escolher sua fé em detrimento da sua sexualidade”.
Em sua assembléia anual, que está acontecendo em Toronto nesta semana, o Conselho Administrativo da APA decidiu, por 125 votos favoráveis e quatro contrários, que seus 150 mil associados na América do Norte deverão se posicionar firmemente contra a chamada ‘terapia reparadora’ que pretende alterar a orientação sexual.
Glassgold opinou que “os terapeutas devem ajudar seus clientes com procedimentos que não tentem alterar a orientação sexual, mas sim envolver a auto-aceitação e apoiar o fortalecimento da identidade, sem a imposição de um tipo específico. Devemos desafiar as pessoas a serem criativas quanto às suas identidades”.
Para aquelas pessoas LGBT que ainda quiserem se manter na sua fé, a sugestão é de que sejam incentivados os aspectos de esperança e perdão em detrimento dos conceitos negativos sobre a diversidade sexual. As alternativas mais viáveis seriam o celibato ou a entrada em uma igreja inclusiva.
A líder do comitê alerta para a fragilidade mental e emocional das pessoas que vêm voluntariamente buscar a ‘terapia’ para mudar de orientação: “Essas pessoas estão muito frágeis, desesperadas e isso as torna vulneráveis e até sugestionáveis. Quando a terapia não funciona, os resultados podem ser desastrosos, com depressão e até suicídio. É preciso ser firme e dizer com sinceridade: ‘Você não pode mudar sua orientação sexual, mas podemos ajudar a verificar suas possibilidades daqui para a frente’. Só assim o profissional realmente estará auxiliando o paciente”.
*‘Atração sexual indesejável’ *
Alan Chambers discorda de Glassgold e afirma que ele mesmo “superou a atração sexual indesejável pelo mesmo sexo”. Ele e outros representantes evangélicos já tinham se reunido com o comitê da APA em 2007, quando a pesquisa começou.
O psicólogo evangélico Mark Yarhouse, da Universidade Regent, elogiou o relatório pela iniciativa de se usar uma abordagem criativa em relação às crenças do paciente, mas, tal como Chambers, discorda da ‘afirmação cética’ acerca da possibilidade de mudança da orientação sexual.
Yarhouse e um colega, o Professor Stanton Jones, do Wheaton College, vão apresentar à APA uma pesquisa feita em seis anos, com 61 pessoas que se submeteram ao programa Exodus de reorientação sexual. Segundo o estudo, mais da metade dos sujeitos ou se converteu à heterossexualidade ou ‘se desidentificou com a homossexualidade e abraçou a castidade’. Para os pesquisadores, os resultados provam que não apenas é possível haver a mudança, como a tentativa não tem consequências negativas.
*Diferentes conceitos*
Segundo o relatório da APA, uma das diferenças entre a pesquisa do comitê especial e os experimentos realizados pelo Exodus e outros grupos é o princípio norteador: enquanto o Exodus parte do conceito de que a homossexualidade seria um “desvio”, a pesquisa da APA começou tendo como ponto focal o princípio de que a homossexualidade é uma variação natural da sexualidade humana, só que permanece socialmente estigmatizada de tal forma que pode gerar conseqüências negativas – daí a procura do tratamento de reorientação.
Segundo a estatística, o subgrupo atualmente mais interessado em passar pela reorientação é formado por homens brancos, com escolaridade alta, cuja religião tem um papel importante em suas vidas – e é uma religião que não tolera a homossexualidade. O problema, então, surge do conflito e não da sexualidade. “A fé religiosa e a Psicologia não precisam estar em campos opostos. É preciso incentivar abordagens que integrem os conceitos da
psicologia da religião e da psicologia da orientação sexual”, afirma o relatório.
Perry Halkitis, psicólogo da Universidade de Nova York e que está à frente do comitê da APA para assuntos LGBT, elogiou o relatório pelos seus resultados sérios, sua fundamentação científica e sua busca de equilíbrio.
“Como clínico, preciso lidar com a pessoa como um todo. A fé e a sexualidade são aspectos importantes e ambos devem ser respeitados”, diz ele.
O relatório ressaltou a questão de se submeter adolescentes a terapias relativas à sua sexualidade, orientando profissionais a sempre usarem uma abordagem que ‘maximize a auto-determinação e o amor próprio’ e somente com o consentimento expresso do jovem.
O ativista Wayne Besen, que luta há anos contra os grupos que promovem a ‘terapia de reorientação’, aplaudiu o relatório da APA e reafirmou que ‘a terapia de ex-gay’ é ‘uma travesti trágica, com conseqüências profundas’."
O relatório da APA pode ser acessado em inglês no site:
http://www.apa.org/pi/lgbc/publications/
Fontes: Yahoo News e site da APA
Versão para o português: Eduardo Peret
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