domingo, 6 de setembro de 2009

HOMOFOBIA cotidiana no Rio e no Brasil: as violências nossas de todos os dias


Enquanto no Parlamento vemos avançar a influência religiosa sobre o Estado, comprometendo o princípio da laicidade e as negativas de reconhecimento dos direitos de lésbicas, gays, transexuais, travestis e bissexuais, na vida real e cotidiana de todos nós, seguimos vendo a violência homofóbica se agigantar.

O Grupo Conexão G denuncia a violência cotidianamente praticada contra o segmento em favelas cariocas.

A pesquisadora e especialista em violência, Sílvia Ramos, do SeSec/UCam, afirmou aO Dia que
"o que mais me surpreende, é ver que o Brasil, que está cotado para ser a capital gay do mundo [o Rio, a bem da verdade], tem tanto preconceito! É uma incoerência!"


Matéria do jornal O Dia também fala no aumento da violência contra lésbicas e homossexuais na Baixada Fluminense, segundo denúncia de moradores locais.
Ali, casas são incendiadas, pessoas espancadas em pleno local de trabalho.

Matéria hoje na CBN, de autoria de Sueli Cota, denuncia aumento da violência homofóbica - mas silencia quanto a sua incidência em comunidades populares (Baixada e Favelas).

Na madrugada de sábado, o jornalista e ativista de direitos humanos, Diego Cotta, foi brutalmente espancado por policial militar, debaixo dos Arcos da Lapa. "- É um dos viadinhos daqui da Lapa", pareceu se justificar o PM.

Vemos que, apesar de geograficamente maravilhosa, com estonteante paisagem, a cidade do Rio de janeiro e o estado de mesmo noome não são absolutamente o paraíso ou mesmo um local onde os direitos humanos sejam respeitados como devem: de forma universal.

Há que se exigir atuação célere e eficaz tanto do governador Sérgio Cabral quanto do prefeito carioca, por meio de suas diversas instituições.

Dos ativistas, esperamos que cobrem atitudes punitivas e corretivas eficazes e exemplares dos agentes políticos.

Da comunidade lgbt, que se lembre de tais fatos durante a próxima Parada, em 1º de Novembro e denuncie!

Evocamos o sábio e genial Joãosinho Trinta, em seu enredo "Raros e urubus, larguem a minha fantasia", quando, em 1989, denunciava a crise ética e legal em nosso país tão amado e espoliado:

- Ratos, urubus e coiotes, larguem a nossa alegria, dignidade e felicidade!




Veja a íntegra da matéria de O Dia:
http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2009/9/gays_sao_cacados_nas_favelas_do_
rio_pelo_trafico_e_pela_milicia_33514.html
"Violência afeta ao menos um homossexual por dia nas comunidades.
No País, um morre a cada 2 dias

POR MAHOMED SAIGG, RIO DE JANEIRO

Rio - Eles não cometeram nenhum crime. Mas a decisão de assumir a homossexualidade bastou para que fossem condenados. Moradores de favelas da cidade do Rio e da Baixada Fluminense, gays, lésbicas, travestis e transgêneros vêm sendo caçados por traficantes e milicianos nas comunidades onde moram. Espancados e humilhados em público, muitos acabam assassinados. Outros, com um pouco mais de sorte, são `apenas' expulsos das favelas — após sessões de tortura.


Arte O Dia


Levantamento da ONG Conexão G, com sede no Complexo da Maré, revela que todos os dias pelo menos um homossexual é agredido nas comunidades carentes cariocas. E a violência provocada pelo preconceito não para de crescer. Pesquisa feita pelo Grupo Gay da Bahia — referência na luta contra a homofobia no Brasil desde 1980 — mostra que o número de assassinatos de homossexuais cresceu 55% no País entre 2007 e 2008, quando foram identificados 190 casos, média de mais de um a cada dois dias. Doze deles no Rio.

PAÍS MAIS HOMOFÓBICO DO MUNDO

Com um homossexual assassinado a cada dois dias, o Brasil passou a ser considerado o País mais homofóbico do mundo, seguido por México, que registrou 35 casos ano passado, e Estados Unidos, com 25.

Presidente do Grupo Conexão G, Gilmar Santos alerta que este número pode ser ainda maior. "A opressão contra os homossexuais nas favelas vem aumentando a cada dia. Nas pesquisas de campo a gente descobre que a maioria dos casos não é registrada. E, mesmo quando as vítimas resolvem procurar a polícia, muitos preferem não revelar sua orientação sexual por temer mais violência", explica.

Ex-moradora da Zona Sul, a jovem Patrícia, 24 anos, viu de perto os horrores vividos pelos homossexuais nas favelas do Rio. Depois de se assumir como lésbica, ela se mudou para o Morro da Providência, no Centro, onde morou por oito meses com a namorada. "Além de bater nos gays e travestis, os bandidos ficam ameaçando estuprar as lésbicas. Fazem um terror psicológico insuportável", conta. "Quando descobrem uma lésbica no morro, dizem que a garota só se tornou homossexual porque não conheceu homens de verdade. E que darão `um jeito'. É por isso que hoje muitas meninas agem como se fossem mulheres quando estão no morro e só assumem sua orientação quando saem de lá", completa.

Na Favela do Timbau, na Maré, a homofobia também vem marcando a vida dos homossexuais. Nascido e criado na comunidade, o travesti Marcela Soares, 40 anos, conta que já perdeu muitas amigas torturadas e assassinadas só por serem homo.

"Isso já está se tornando comum nas favelas. E a gente não pode fazer nada senão morre também", lamenta Marcela, que admite sofrer com o preconceito. "A gente se sente humilhada, afinal também somos humanos como os heterossexuais e exigimos respeito", desabafa Marcela, que é formada em Moda.

`Matar homossexual virou diversão'

A violência contra homossexuais nas favelas do Rio vem chamando a atenção de militantes do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) e pesquisadores de todo o Brasil. O presidente do Grupo Gay da Bahia, Marcelo Cerqueira, ameaça denunciar o governo brasileiro à Organização das Nações Unidas e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos.

"Bater e matar homossexual já virou entretenimento popular nas favelas. Mas não vamos ficar assistindo a esse `homocausto' (holocausto de homossexuais) de braços cruzados. Já que não temos força política para brigar por nossos direitos, esta é uma maneira de tentar nos proteger dessa violência", explica Marcelo.

Coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, a psicóloga Sílvia Ramos afirma que ainda existem poucos estudos sobre homofobia nas favelas. Mas reconhece: "Ser homossexual numa favela é muito mais perigoso do que num bairro de classe média". "É natural que a violência seja mais grave em territórios dominados por grupos armados. Mas, o que mais me surpreende, é ver que o Brasil, que está cotado para ser a capital gay do mundo, tem tanto preconceito! É uma incoerência!".

Em 2004, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, ligada ao governo federal, lançou o Programa Brasil Sem Homofobia. Ele inclui ações voltadas à promoção da cidadania e ao fortalecimento da defesa dos direitos humanos dos gays.

Professor escapa por pouco de incêndio criminoso

A violência contra os homossexuais não é `privilégio' das favelas dominadas pelo tráfico. Nas áreas controladas com mão de ferro pela milícia, o preconceito e a intolerância sexual também mostram a sua força. Em Nova Iguaçu, por exemplo, a caça aos gays, lésbicas e travestis pode chegar a extremos.

Morador da Vila de Cava, no subúrbio da cidade, o professor Carlos (nome fictício), 26 anos, foi vítima de vizinhos que incendiaram sua casa. Segundo ele, o atentado, no fim de 2007, foi motivado pela rejeição ao fato de ser gay.

"Estava dormindo e acordei com a casa em chamas. O fogo já estava por toda parte e, por sorte, consegui quebrar a janela do quarto, por onde saí. Na rua havia várias pessoas que, mesmo com meus pedidos de ajuda, permaneceram de braços cruzados. Alguns até dizendo que `veado' tinha que morrer mesmo", conta Carlos,
que perdeu tudo no incêndio.

Próximo dali, em Mesquita, também na Baixada Fluminense, é igualmente comum encontrar vítimas da homofobia. Lésbica, a comerciante Jucyara Albuquerque, 44 anos, é mais uma que sofreu com o preconceito. Homossexual assumida desde os 16 anos, Jucyara afirma que tem um longo histórico de agressões.

"Já sofri muito por causa da minha orientação sexual. Certa vez cheguei a ser espancada por dois homens que me agrediram enquanto eu trabalhava. Eles simplesmente chegaram, começaram a me xingar porque souberam que eu era lésbica e partiram para cima de mim. Fiquei com o corpo todo machucado", lembra ela."

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