Continuamos a assistir certos tipos de "religiosos" distorcerem os ensinamentos do Cristo que dizem crer e seguir, para justificar sua pessoal dificuldade em respeitar o semelhante, em conviver com as diferenças, colocando-se a serviço da disseminação do ódio, da violência, do crime, da barbárie, ao invés de se postarem na luta contra a iniquidade, a concentração de renda, as injustiças sociais, a corrupção, o mal uso dos recursos públicos - posicionamento que efetivamente os levaria à proximidade com a filosofia cristã.
Em agosto vimos um padre católico, investido na função parlamentar, utilizar seu cargo de representação coletiva para negar o reconhecimento dos direitos civis de cidadãos homossexuais.
O padre José Linhares, relator do projeto de lei do Estatuto das Famílias, não apenas votou contra a retirada das famílias homoafetivas do lugar de párias, como declarou à imprensa que tais conjugalidades deveriam permanecer à margem, sem direito de usufruir em igualdade de condições dos direitos civis garantidos às demais modalidades de núcleos familiares - com o que demonstrou claramente não respeitar o ordenamento maior da nação, que é a Constituição Federal, que proibe terminantemente qualquer atitude discriminatória em nosso país. Com ele concordou - por omissão - todos os deputados integrantes da Comissão de Seguridade Social e Família, onde o projeto tramitava e onde foi aprovado por unanimidade (ver postagens neste blog).
Neste mês, no último dia 15, no Piauí, um certo João Batista Alves de Carvalho, que se apresenta publicamente como "PASTOR BATISTA. PROFESSOR, ESCRITOR E HISTORIADOR", entendeu de utilizar o espaço de um jornal local para destilar seu caráter violento, discriminatório e criminoso.
Distorcendo os ensinamentos bíblicos, vilipendiando os princípios norteadores do saber historiográfico e violando as normas constitucionais e penais do respeito à dignidade humana, da não discriminação e da não incitação à violência e ao ódio, destilou o senhor João Batista Alves de Carvalho toda a sua fúria para com os homossexuais. Por meio de um texto no qual endossa práticas criminosas verificadas no passado histórico, referenda inclusive o holocausto a que foram submetidos, junto com os homossexuais e os judeus, os comunistas, os testemunhas de jeová, os ciganos.
Ao pregar a violência contra gays e lésbicas por meio do endosso das práticas mais abjetas e crueis que a história registra (fogueira, esquartejamento, lapidação, câmara de gás), que jamais foram penas exclusivas às práticas homoeróticas, o indigitado pastor João Batista de Carvalho se esqueceu, junto com os princípios do saber Histórico, do cristianismo e de nossa Constituição, das suas próprias origens pessoais, familiares.
Esquece o senhor pastor e historiador Alves de Carvalho que as bárbaras perseguições e mortes praticadas pela Inquisição do Santo Ofício, mais do que aos homossexuais, atingiram sobretudo os não-católicos (judeus e muçulmanos).
A intolerância inquisitorial levou-os a se converterem forçadamente aos ritos da Igreja de Roma, adotando novos sobrenomes, como meio de fugir dos horrores dessas penas que o pastor batista João de Carvalho parece desejar sejam aplicadas hoje aos homoafetivos.
Surgiram, assim, tanto em Portugal quanto na Espanha e América Ibérica, os cristãos-novos, conversos à força, obrigados a abandonarem a própria fé para não serem assassinados. Seus sobreviventes podem ser identificados através dos nomes de família que instituíram para si quando da adoção forçada do catolicismo.
Não apenas os popularmente conhecidos patronímicos originários de plantas, como é o caso do seu "Carvalho" que, juntamente com "Moreira, Nogueira, Oliveira e Pinheiro", são, "notadamente, de cristãos-novos", segundo afirma "estudo do professor de antropologia José Nunes Cabral de Carvalho (1913 - 1979), fundador da Comunidade Israelita do Rio Grande do Norte" (www.riototal.com.br/comunidade-judaica/juda6c7.htm).
Também os de origem geográfica - Toledo, Évora; de alcunha - Moreno, Bueno; os originários de profissões - Ferreira, Barbeiro; de nomes de pessoas - Henriques, Fernandes...
Outros mais, como é o caso do seu "Alves", conforme estudo realizado por Flávio Mendes de Carvalho a partir dos arquivos da Torre do Tombo em Lisboa e publicado em "As raízes judaicas no Brasil", todos eles foram vítimas da intolerância, do ódio ao diferente.
Segundo estimativas de diversos historiadores, entre 10 e 35% de todo povo brasileiro teria em sua origem a marca da conversão forçada - a marca do ódio, da intolerância, da perseguição. Veja em http://hebreu.blogspot.com/2009/05/sobrenomes-usados-por-cristaos-novos.html.
Assim, esquecido do passado de sofrimento vivenciado por seus próprios ancestrais, por força da mesma intolerância que hoje pratica, o senhor pastor cristão (?) João Batista Alves de Carvalho comete ainda mais uma violência, mais um ato de desrespeito - agora contra os portadores de hanseníase, ao comparar a infecção dos tecidos nervosos, produzida por um bacilo, à uma das formas de orientação do desejo humano: a homoerótica.
Rogamos que o Cristo - todo amor e fraternidade - tenha pena de sua alma, ao mesmo tempo em que estranhamos um veículo com tendência democrática e republicana como parece ser O Dia do Piauí (http://www.sistemaodia.com), tenha aberto espaço em suas páginas para semelhantes práticas criminosas.
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Veja a íntegra do texto do senhor Alves de Carvalho:
"João Batista Alves de Carvalho
PASTOR BATISTA.
PROFESSOR, ESCRITOR E
HISTORIADOR
Todos nós sabemos que a bíblia é a carta de Deus revelada aos homens, é a carta magna, o livrosagrado divino-humano, é o testamento de Deus e do seu filho Jesus Cristo para os seus seguidores. É neste livro que encontram-se os preceitos divinos, normas, condutas, éticas, caráter, comportamentos, ensinos, exemplos.
A bíblia é a única regra de fé e prática, conduta e comportamento. O homossexualismo, tanto masculino como feminino, é um comportamento e uma prática anti-bíblica, condenada por Deus, desde o Antigo ao Novo Testamento, e diga-se de passagem, é uma inspiração diabólica. Porém, sabemos que o homossexualismo esteve presente desde a antiguidade.
Já nos tempos do Patriarca Abraão, o pecado do homossexualismo se agravou tanto que seu mau cheiro chegou às narinas e Deus, provocando assim a destruição de duas cidades, palco do homossexualismo, SODOMA e GOMORRA, com fogo e enxofre, as mesmas se tornaram em CINZAS.
A profundidade do fogo, segundo alguns historiadores e teólogos, foi tão grande que naquele local deu origem ao mar morto que recebe as águas do Rio Jordão. As suas águas são tão salgadas e imprestáveis que ali não há sobrevivência, nem no mar, nem nas suas margens. Suas águas para nada servem, devido a grande quantidade de sal ali existente (Gênesis Cap. 13, 18-19).
As práticas homossexuais eram comuns entre os egípcios, gregos e romanos. Já as autoridades Européias da Idade Média protestavam veementemente contra o homossexualismo. Desde a época renascentista, varias nações européias invocaram o castigo divino para os praticantes do homossexualismo, tal qual aconteceu com SODOMA e GOMORRA, de modo que alegavam ainda a destruição de POMPÉIA e HERCULANO, por uma erupção do Vesúvio em 79 d.C. Como manifestação da ira de Deus.
Em 1458, em Veneza, foram adotadas leis anti-sodomitas para tentar preservar a cidade da ira Divina. Na Espanha, os Reis Fernando de Aragão e Isabela de Castela mantiveram as leis no século XIII. A execução dos homossexuais consistia de castração, seguida de apedrejamento e queima do corpo em estaca, em plena praça pública.
Na Suíça, nos tempos da Reforma Protestante, as pessoas apanhadas no ato homossexual eram esquartejadas vivas, permanecendo por uma semana, quando então eram queimadas. O mesmo ocorria na França, Itália e em Portugal.
No Brasil, essas leis foram aplicadas pelos portugueses em 1521, estendendo-a também para os atos lésbicos em 1603. Milhares de homossexuais foram mortos durante a 2ª Guerra Mundial nos campos de concentração. Mas tal qual a lepra, o homossexualismo está sempre vivo, só que a lepra hoje tem cura, quando bem cuidada, o homossexualismo não teve cura e nem terá, a menos que seus adeptos e simpatizantes abram seu coração e permitam que o Espírito Santo os transformem.
No pensamento de muitos, o HOMOSSEXUALISMO pode ser causado por abalo familiar, conjugal, moral, social, financeiro e espiritual. Eu fico com o último. Enquanto não houver uma vida pautada nos moldes de Deus, enquanto não houver uma educação religiosa baseada na Bíblia, enquanto a família negligenciar a doutrina do evangelho e quando Jesus Cristo não for o alicerce do lar e nosso hospede permanente, o diabo sempre encontrará brechas e entrará facilmente e aí haverá tudo quanto satanás gosta: briga, separação, falta de vergonha, falta de moral, abalo financeiro, infidelidade,
prostituição, drogas, HOMOSSEXUALISMO, morte, etc.
E o final será o inferno se Cristo não for o centro de tudo, inclusive do desejo e ações sexuais. O que está acontecendo no Brasil e aconteceu na sexta-feira à tarde do dia 28/08 na Av. Frei Serafim, é pura falta de vergonha, falta de respeito, falta de moral, falta de autoridade das autoridades, abuso da lei, atentado violento ao pudor (art. 214 e art. 233 do código penal).
A palhaçada aconteceu exatamente no momento que jovens, adolescentes e crianças saiam dos colégios. Mas, onde está as autoridades, os representantes do povo, a igreja? Algumas presentes, dando apoio e cobertura como foi o caso de deputados, deputadas, secretários de governos, etc.
Tudo acontece próximo ao ano eleitoral de 2010, tudo por conta de votos vindoros. Que política e que políticos sujos, interesseiros e descompromissados com a ética, com a educação com a sociedade e com a moral! Que Piauí e que Brasil é este que vivemos? Isto é uma Vergonha!
Os HOMOSSEXUAIS e autoridades simpatizantes pelo movimento GAY exigem ética, respeito e punição a quem os descriminarem, mas onde foi parar o respeito por parte deles? Machos (e não homens), fêmeas (e não mulheres) se abraçando e se beijando em pleno dia e em plena avenida, outros desfilando com a bunda toda de fora e um até com um objeto enorme representando
um pênis. “Isto é uma vergonha”!
É isto que deve ser punido e exigido respeito por parte das autoridades. Mas, de que lado estão as autoridades? A resposta fica com você leitor! Digo de mulheres e de homens, com respeito àquelas e àqueles que são mulheres e homens de verdade portadores de caráter, respeito e um comportamento adequado.
Está estampado na capa do “Jornal O DIA”, edição do domingo dia 30 de agosto de 2009 o seguinte: “Prostituição – bastidores da noite em Teresina”. E nas páginas 4 e 5 a reportagem. O alvo são prostitutas e travestis de todos os estilos. É o comércio barato do sexo.
Verdadeira agressão ao pudor, imoralidade, falta de respeito, falta de caráter, falta de formação, falta de educação e um vazio enorme , tudo isto é uma verdadeira falta de Cristo no centro da vida. Onde está a Justiça, a segurança e as autoridades outras? Apoiando a diversidade. Outros ficam apoiando e admirando de longe, em cima do muro (nem todos é claro).
A bíblia nos diz: “com homem não te deitarás como se fosse mulher; é abominação”. (Levitico 18:22); “Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames ; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outra, contrário a natureza” (Romanos 1: 26); “semelhante, aos homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homem com homem, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro.” (Romanos 1:27).
Vejamos o que no diz o Apóstolo Paulo na sua Primeira Epístola a Timóteo: “Tendo em vista que não se promulga lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas, impuros, sodomitas (afeminados, homossexuais, lésbicas), raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã doutrina (1 Timóteo 1; 9-10) fora (do céu) ficarão os cães, os feiticeiros (macumbeiros, cartomantes), os impuros (homossexuais, lésbicas, alguns políticos), os assassinos, os idólatras (que adoram imagens), e todo aquele que ama e pratica a mentira (alguns políticos) Apocalipse 22: 15”.
A palavra de Deus não volta atrás, ela é viva e eficaz. Pode passar o céu e a terra, mas a palavra de Deus não passará, ela permanece para sempre."
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Veja o que lhe respondeu o Rev. Márcio Retamero, Teólogo, Historiador (Mestre em História Moderna, UFF, Niterói/RJ) e pastor da igreja inclusiva Comunidade Betel do Rio de Janeiro
"FARISEUS, HIPÓCRITAS!
O artigo publicado no jornal "O Dia" de Teresina na terça-feira (15/09/2009), assinado por um pastor batista chamado João Batista Alves de Carvalho, talvez seja o maior ataque discriminatório contra a população LGBT brasileira, publicada num periódico neste ano. Causa espanto às mentes sãs, o breve currículo informado a respeito do pastor João: educador e historiador, além de pastor.
Estamos batendo o recorde este ano de ataques deste tipo à comunidade LGBT brasileira. Dia desses, a chacota contra esta população, do deputado padre José Linhares (PP – CE); agora, o artigo eivado de homofobia do tal pastor do Piauí. Interessante notar que em ambos os casos, trata-se de cristãos, pelo menos nominalmente! Causa-nos espanto, também, o fato de que tem se originado nesta fatia da sociedade brasileira, os mais frontais ataques às tentativas políticas de conceder real cidadania aos homossexuais. Os maiores exemplos disso é a ação direta de inconstitucionalidade (ADI) que o CIMEB (Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil) ajuizou no Supremo Tribunal Federal contra a Lei 10.948/01, do Estado de São Paulo, que penaliza administrativamente a discriminação contra pessoas LGBT e a luta ferrenha que a bancada parlamentar evangélica tem travado no Congresso Nacional contra a aprovação do Projeto de Lei 122/2006, em trâmite naquela Casa.
Tais ataques "cristãos" à comunidade LGBT visam à continuidade da homofobia no Brasil, pois tais "cristãos", como demonstram os exemplos acima, são os que mais atacam a comunidade LGBT, não apenas escrevendo artigos chamando-os de doentes, comparando-os com os "leprosos" bíblicos, como fez o pastor João, mas também em seus altares e púlpitos, comparando homossexuais com drogados, ladrões, prostitutas e o que tiver de pior na sociedade, como faz o pastor Silas Malafaia, da Assembléia de Deus da Penha, RJ, dentre outros Brasil a fora.
Dizem os "cristãos" que estão no seu direito de livre expressão, garantido pela Constituição Cidadã de 1988, ao agirem covardemente contra a minoria LGBT brasileira. Dizem que lutam contra as leis que visam extinguir a homofobia social no Brasil, porque tais leis ferem a liberdade de expressão, deste modo, atacam implacavelmente toda e qualquer ação em prol da comunidade LGBT.
Os seguidores de Jesus Cristo foram chamados de cristãos, pela primeira vez na história, na cidade de Antioquia da Síria, onde também estava localizada, segundo o livro dos Atos dos Apóstolos, a igreja mais missionária dos primórdios do cristianismo. Foram chamados assim, porque falavam, agiam, se comportavam como Jesus. Quanta diferença entre àqueles cristãos e os "cristãos" brasileiros de hoje, tão longe do ideal de Jesus Cristo que agiu, ensinou, falou, obrou pelo amor. Aliás, o mesmo Jesus, segundo os Evangelhos, declarou que a maior lei para aqueles que O seguiam, era a lei do amor, o maior mandamento. Por ser o exemplo maior de seguidor da lei do amor, Jesus não trabalhou contra os excluídos, os marginais sociais de sua época: prostitutas, leprosos, cobradores de impostos, pastores de ovelhas, samaritanos, ladrões, beberrões, glutões, e toda a gente categorizada como pária social! Na verdade, Jesus com tais andava, comia, celebrava e escolheu doze desses, além de mulheres como Maria Madalena, Joana, também consideradas "impuras" por serem simplesmente mulheres, para serem os seus mensageiros. Só sabe amar quem é alvo de muito ódio! Jesus sabia disso.
Não sabe disso os inquisidores de hoje como o pastor João, advogado de um cristianismo tão distante de Jesus como a terra é distante da Via Láctea. O pastor João do Piauí, o deputado padre José Linhares e Silas Malafaia, dentre outros, são representantes de uma gente que Jesus topou de frente e os confrontou enquanto aqui esteve: os fariseus. Josefo, historiador judeu do primeiro século, informa-nos a respeito dos fariseus: não era gente má; na verdade eram os mais fiéis dentre o povo à lei de Moisés e temiam muito a Deus, contudo, sua fidelidade a Deus e a lei mosaica, os cegava para o exercício do amor, da misericórdia, que a lei também ordenava. Na verdade, os fariseus fizeram da lei o seu "deus". Por isso Jesus, quando os encontrou, ensinava que de nada adianta ser o maior potencial, humanamente falando, de fiel a Deus, se o amor não for a diretriz de todos os seus atos. Por isso Jesus os chamava de hipócritas, sepulcros caiados, guias cegos, raça de víboras e outros apelidos nada elogiosos.
O pastor João, autor do artigo homofóbico e anticristão, bem como seus pares do CIMEB e seu irmão na fé, o deputado padre José Linhares, são hoje o que os fariseus da época de Cristo eram: pessoas que fazem da Bíblia o seu "deus", guias cegos que guiam outros tão cegos como eles, gente que não enxerga que sem amor, como disse o Apóstolo Paulo, nada vale, nem mesmo o que eles chamam bom. São também raça de víboras, pois agem na maldade contra uma minoria que luta tão somente pelo direito de existir e de ser respeitada. São sepulcros caiados, pois tal como aqueles, por fora, são bonitos e limpos, mas por dentro são sujos, cheios de podridão e seus atos persecutórios contra os LGBTs demonstram isso. São tão cheios de peçonha, que lêem a Bíblia com olhos cheios de maldade, usando-a, como fizeram os assassinos religiosos antes deles e que o pastor João cita em seu artigo, contra gente que Jesus, se aqui estivesse, andaria, comeria, celebraria e incluiria.
O pastor João, bem como seus pares, são rápidos em citar versículos bíblicos que supostamente condenam a homossexualidade e as pessoas homossexuais, mas esquecem de tantos outros versículo da Bíblia que diz, por exemplo, que o filho mentiroso deve ser apedrejado fora da cidade, que a filha pode ser vendida como escrava para pagar dívidas, que comer camarão é pecado, bem como semear dois tipos de sementes no mesmo solo ou usar roupas que misturam dois tipos diferentes de fios como o algodão e o poliéster.
Os defensores da Bíblia e promovedores de ataques contra homossexuais esquecem que a Bíblia, no livro de Juízes, capítulo 19, narra um episódio bem parecido com Sodoma e Gomorra com algumas diferenças que não invalidam o paralelismo: em Gibeá, houve estupro e morte, em Sodoma e Gomorra não houve estupro, nem morte por estupro e os personagens alvos do ataque malogrado eram "anjos", não seres humanos. Contudo, o Senhor não destruiu Gibeá como fez com Sodoma e Gomorra! Será que para Deus a vida humana vale menos que a vida angelical? Claro que não! Acontece que, ao contrário do que os "doutos" teólogos fundamentalistas como o pastor João e seus pares encobrem é o fato de que Sodoma e Gomorra não foram destruídas por conta do "pecado" da homossexualidade (simplesmente porque homossexualidade não é pecado nem a heterossexualidade)! Quem declara isso é a própria Escritura, através do Profeta Ezequiel, que diz: "Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranqüilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado" (Ez 16.49).
Ou seja, o Profeta Ezequiel ensina (está escrito) que o que levou Deus a "destruir" Sodoma e Gomorra foi a imensa injustiça do povo que ali habitava para com os excluídos e párias sociais: pobres e necessitados. Entendido isso, fica a questão: quem são os sodomitas de hoje? São as lésbicas, os gays, os bissexuais, as travestis e as transexuais ou são os que usam a Bíblia, a religião, a política e o poder econômico para não amparar e dignificar com cidadania um grupo minoritário da sociedade brasileira?
O pastor João, destorce malvadamente, usando de sua peçonha as Escrituras e com ele, todos os fundamentalistas cristãos quando citam passagens como a da primeira carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios. Tal carta não foi escrita em português, mas em grego e o termo que o autor dela usa nesta passagem não pode ser traduzido como os ideólogos tradutores da Bíblia para o português fazem como "efeminados" e "sodomitas". Paulo usa dois neologismos (arsenokoitai e malakoi) que literalmente podemos traduzir: "homem de cama" e "macio", ora, homem de cama é prostituto e macio ou suave ao toque pode ser alguém que possui um caráter "mole", ou seja, alguém sem caráter! A Bíblia de Jerusalém traduz o termo como: "pessoas de costumes infames"... Onde a referência à homossexualidade como a entendemos hoje? Não existe!
Poderia analisar as outras passagens bíblicas, mas este artigo já tomou uma proporção que excede o limite. A questão central é: ainda que a Bíblia realmente condenasse a homossexualidade, o que ela em lugar algum faz, cristãos, seguidores de Cristo, deveriam lutar pela inclusão da comunidade LGBT, garantindo a cidadania desses, não, como fazem, excluindo-os mais, chamando-os de doentes, leprosos, pragas e outras coisas que tiram a dignidade humana. Pessoas como o pastor João, o deputado padre José Linhares e Silas Malafaia e toda esta laia fundamentalista, deveriam ser processados judicialmente e condenados, pois não promovem Direitos Humanos.
Pessoas como o pastor João Batista Alves de Carvalho e seus pares, ao agirem da maneira que agem, ao escreverem artigos como o publicado na última terça-feira, ao dizerem de seus púlpitos coisas horrendas que ferem a dignidade de um ser humano, contribui com cada assassinato, com cada agressão física e verbal, com cada expulsão de um filho ou filha homossexual do seu lar. São cúmplices do sangue homossexual derramado em nosso solo, que longe está de ser mãe gentil para os homossexuais brasileiros. São as bocas que lhes engolem o corpo sem vida, cada vez que uma cova é aberta para sepultar um homossexual.
Aprendam com Cristo, que ao invés de incitar o ódio e a violência, amou verdadeiramente. Somente então digam: sou um cristão, enquanto isso não acontecer vocês serão tão somente religiosos, fariseus e cúmplices de derramamento de sangue tanto quanto cúmplices foram, os fariseus antes de vocês,
ao consentirem na morte daquele que vocês dizem seguir: Jesus Cristo.
Rev. Márcio Retamero
Teólogo, Historiador (Mestre em História Moderna, UFF, Niterói/RJ) e
pastor da Comunidade Betel do Rio de Janeiro."
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