Ainda assim dois acontecimentos faço questão de registrar e divulgar, mesmo que de forma breve, telegráfica.
Um é a petição que circula pela internet, solicitando seja declarada extinta a dívida externa do Haiti.
Penso seja dispensável tecer qualquer justificativa, por óbvia.
Às pessoas interessadas em assinar e participar da rede de divulgação, o endereço é
http://one.org/international/actnow/haiti/index.html?rc=haiticonfemail
Eis o texto do abaixo-assinado em português, numa tradução do sítio Memorial Lélia González:
Ajuda ao Haiti? - Cancelamento da sua Dívida!
E garantir que as remessas em dinheiro para a reconstrução do país se dê soba a forma de um novo auxílio, prestado sob a forma de subvenções.
Caros Ministros das Finanças, FMI, Banco Mundial, Banco e credores bilaterais, enquanto o Haiti se reconstrói desta catástrofe, por favor, trabalhem para garantir o imediato cancelamento de 890 milhões dólares da dívida do Haiti e que qualquer auxílio de emergência do terremoto seja fornecido sob a forma de subvenções, não sendo empréstimo e sem contabilizar qualquer dívida.
Nome / E-mail / CEP / País
Depois que completar, aparecerá uma resposta em tela cinza. Para sair, basta ir para a parte de cima, rolando com o mouse na barra à direita e clicar em close.
Tradução livre de Memorial Lélia Gonzalez
O objetivo é chegar a 150.000 assinaturas e o mostrador está fazendo contagem regressiva.
Web Site - www.leliagonzalez.org.br
Ações Afirmativas - http://afirmativas.blogspot.com
Informa - http://leliagonzalez-informa.blogspot.com
Continente África - http://continente-africa.blogspot.com
O outro é o novo filme de Vagner de Almeida, que tive o prazer de assistir no genial Cinema Nosso, na Rua do Rezende, 80, Lapa, RJ.
Trata-se do Sou Mulher, Sou Brasileira, Sou Lésbica.
Vagner, a partir de depoimentos em primeira pessoa, com nome, sobrenome e face, expõe algo que a sociedade brasileira se recusa a admitir:
Lésbicas não são marcianas - como já nos anos 80 demonstrava a poeta Leila Míccolis, uma das precursoras do ativismo lesbiano fluminense.
São mulheres como quaisquer outras, exceto pelo seu desejo afetivossexual e pela carga de violência que essa singela peculiaridade, do âmbito de sua vida pessoal, privada, é capaz de fazer desencadear:
mães, filhas, avós. Mas, sobretudo, pessoas que constroem sua trajetória a partir do posicionamento crítico ante o absurdo dos processos de estigmatização.
O melhor do filme do Vagner, de meu ponto de vista, é ter conseguido compor um belíssimo retrato da diversidade lesbiana nacional urbana a partir de personagens que espelham a maioria - são pessoas que trabalham, estudam, constroem e investem em projetos (pessoais e coletivos), amam, sofrem, resistem, insistem.
Trazem as marcas de nossa brasilidade, manifestas por meio das chamadas transversalidades - étnica, geracional e de classe e posição.
Poder ver lésbicas "de carne e osso" falando sobre sua experiência pessoal e profunda (porque consciente, crítica) ante "a dor e a alegria de ser o que é", sem dúvida é um acontecimento inaugural.
As imagens positivas comumente veiculadas de homossexuais tendem a reproduzir as mesmas marcas associadas a poder e prestígio, vigentes na sociedade como um todo - traços europeus e imagem portadora de referências que remetem ao estrato social médio alto.
Em resumo: que não se pareçam com "povo".
No filme do Vagner a empatia aflora de cara: são "pessoas comuns", passíveis de serem "encontradas em cada esquina".
O que é o mesmo que dizer: de tão comuns, podem perfeitamente fazer parte de nossas redes de relações.
Esse, para mim, o grande "achado" do filme do Vagner: a possibilidade de fazer ver a humanidade que habita em todas nós.
Vale não só conferir mas, sobretudo, utilizá-lo como ferramenta pedagógica na educação para a democracia, para os direitos humanos, para a diversidade, para o respeito ao outro, para a ética.
Valeu, Vagner! Gratíssima por mais essa.
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