Domingo, dia 21 de fevereiro. No romper da madrugada, a Unidos da Tijuca, campeoníssima das Escolas de Samba do Grupo Especial, realiza o seu desfile de vitória, outra vez arrebatando a multidão que no Sambódromo acompanhava o espetáculo das Campeãs. O "horário de verão" já havia terminado, estávamos portanto, com uma hora há mais no domingo pra curtir como melhor achássemos.
Vem a noite e, com ela, a expectativa de véspera de trabalho e a mistura de angústia e alegria pela permanência do "sol escaldante".
Passeando pelo "Fantástico", da Rede Globo, topo com a notícia estapafúrdia: um cidadão de 50 anos, incomodado com o beijo entre duas moças durante o desfile de um bloco carnavalesco na Zona Sul carioca, resolve chamar a polícia. O argumento de que se utiliza é que estaria havendo "sedução de menor", pois, segundo ele, uma das moças parecia ser "menor de idade".
Até que o delegado afirmasse o óbvio ululante inscrito na Constituição da República e introjetado no senso comum de pessoas razoáveis e nas regras de civilidade urbana do século XXI (beijo resultante de ato de livre vontade, sem coação ou violência, não é e não pode ser considerado tipo penal - não é crime; não consta do Código Penal, tampouco de qualquer legislação extravagante), muita confusão ocorreu: um policial foi atropelado e teve o pé fraturado; dois rapazes que defenderam o direito das moças, foram presos; e todo mundo ficou na delegacia até altas horas da noite/madrugada de sábado para domingo.
As moças, finalmente, conquistaram o direito de ter o seu direito reconhecido e puderam ir pra casa. Tambem o denunciante cinquentenário. A identidade deles, assim como a dos jovens detidos, foi preservada, a fim de evitar mais constrangimentos e discriminações.
Mais cedo no mesmo domingo, pela internet, descubro que no atual Big Brother Brasil, (que não assisto e sequer compreendo suas regras) tambem da Rede Globo, há um jovem, de nome Dourado, que afirmara, sobre uma integrante da casa: "se [ela] fosse homem ele tinha quebrado os dedos dela e mandado pro hospital"
Como se não fosse suficiente semelhante manifestação de ódio, consta que o mesmo Marcelo Dourado ostenta em seu ombro uma suástica tatuada - o que a Constituição formalmente proibe -, além de já haver se expressado de forma preconceituosa com relação aos homossexuais.
De forma sintomática, semelhantes atitudes desse rapaz, encarnando a persona (combatida por todas as pessoas comprometidas com os Direitos Humanos) do machão que espanca lésbicas e detesta homossexuais em geral (tem "nojo"), tem incentivado comportamentos igualmente violentos e estigmatizantes por parte de outros jovens que apresentam a mesma estrutura de personalidade e se autointitulam "esquadrão Dourado". Há mesmo uma catalisação da verve homofóbica sobre o Dourado. Veja os comentários que abarecem nesta postagem aqui.
Lésbicas, Gays, Travestis, Transexuais e Bissexuais que são assíduas telespectadoras do programa Big Brother Brasil e especialmente desta versão atual (BBB10) acusam a Rede Globo de televisão de, na edição do programa, haver suprimido da transmissão as partes nas quais o tal Dourado expressa com inteireza a sua verdadeira índole - preconceituosa, violenta, machista, homofóbica, nazista (ler os posts dos blogs lincados neste texto)*.
Ainda pela internet, porém nesta segunda-feira, leio a notícia de que a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais) emitiu uma Nota Oficial contra o comportamento desse Dourado.
Tambem pela mesma internet e no mesmo dia, vem a notícia do posicionamento do Grupo Arco Íris do Rio de Janeiro (GAI), contrário às falas preconceituosas e agressivas do mesmo Big Brother.
E, ainda, a informação de que Representantes do movimento LGBT em São Paulo já noticiaram ao Ministério Público semelhantes práticas.
Enquanto o público que, independentemente de gostar/acompanhar ou não o tal BBB10 , possui senso de respeito aos Direitos Humanos e aguarda a pronta e eficaz ação do Ministério Público, por meio de sua Curadoria dos Direitos Individuais, Difusos e Coletivos, para fazer valer as normas jurídicas nacionais que proibem exaltação do nazismo (por palavras, manifestos ou uso de seus símbolos), práticas discriminatórias e incitação à violência, a mesma Globo em outras vias e empresas da Rede apresenta atitudes mais consentâneas com o respeito às normas vigentes e aos Direitos Humanos.
Hoje pela manhã, ouvindo a CBN, comentaristas Artur Xexeo, Viviane Mosé e Carlos Heitor Cony discutiram a ridícula atitude do cidadão que chamou a polícia para reprimir um beijo entre mulheres.
Tambem na mesma manhã desta segunda-feira, atraves da TVBrasil, vejo a novela educativa Tecendo o Saber que, sempre que posso, acompanho com prazer e que tem como uma das principais parceiras a Fundação Roberto Marinho, integrante das organizações Globo. E qual não foi o tema da aula exibida, senão o preconceito?
- Pois é. Até parece que foi uma resposta (pedagógica) a esse recrudescimento da mentalidade violenta, preconceituosa, desqualificadora, estigmatizante, autoritária, segregacionista.
Dentre as diversas manifestações preconceituosas mostradas nesse capítulo hoje exibido pela TVBrasil (todas nossas cotidianamente bem conhecidas), foi enfocada preponderantemente a questão do preconceito por motivo da orientação sexual.
O filho do personagem interpretado por Benvindo Siqueira (Celestino, um pequeno comerciante nordestino emigrado para a grande cidade) vem visitar o pai, após muitos e muitos anos sem contato pessoal entre os dois. E, para surpresa de Celestino, seu filho, Celestino José (interpretado pelo ator Rodolfo Mesquita), é gay.
Agora à noite, outra vez na internet, outra notícia sobre o domingo (21/02): O Grupo de jovens LGBTs de Campinas (o E-Jovem) realizou uma caminhada pelas ruas principais de Campinas, culminando com um ato público na Praça Bento Quirino.
Protestavam, sem qualquer carro de som ou trio elétrico, contra a homofobia que os expulsa das escolas e, não raro, levam-nos ao suicídio.
Exigiam o seu direito ao respeito por parte de seus familiares consanguíneos, dos profissionais da educação e da população em geral.
"Um deles chamava para a família a responsabilidade pelos jovens gays que se suicidam. Muitos clamavam por direitos iguais para todos, por respeito, por liberdade", disse Deco Ribeiro, Diretor da Escola Jovem LGBT, em seu blog.
Como se pode ver, a luta entre as mentalidades contra e a favor dos Direitos Humanos está inteiramente em curso no Brasil, mostrando que a nossa Democracia ainda é uma jovem em formação, a depender do comprometimento e da ação de todos nós. Efetiva e cotidianamente.
Não podemos nos esquecer, um minuto sequer que, todos os dias, a homofobia, a estigmatização, o desrespeito para com as mulheres, as lésbicas, os gays, as travestis, as transexuais, enfim, para com o outro, AGRIDE, VIOLENTA, HUMILHA, SEGREGA, MATA.
Por isso, enquanto seus direitos (como os de qualquer outro cidadão) não forem respeitados; enquanto forem alvo de bulling nas escolas e na vizinhança; enquanto forem vítimas de espancamentos por parte de seus pais e parentes consanguíneos; enquanto forem postos pra fora de casa; enquanto forem vítimas de espancamentos, "boa noite cinderela", tiros, empalamento, "estupros corretivos"; enquanto não puderem ter reconhecida jurídica e socialmente sua forma de conjugalidade, ninguem verdadeiramente comprometido com a Democracia e com os Direitos Humanos poderá se manter indiferente, omisso. Pois a omissão é crime: ela alimenta a violência, a intolerância, os assassinatos.
Notas:
*Enquanto redigia este texto, sintonizei na TV Globo justamente no momento em que era exibida a fala do Dourado afirmando (e reafirmando) que quebraria os dedos da moça.
Os sítios referidos encontram-se linkados no próprio texto. Muitos deles tomei conhecimento atraves da comunidade lgbt no yahoo, a cujos partícipes agradeço a constante partilha da informação.
As fotos utilizadas são todas oriundas do blog http://decoribeiro.blogspot.com/2010/02/jovens-lgbt-saem-as-ruas-e-lutam-por.html.
Caso algum/a detentor/a de direitos autorais sobre qualquer fotografia constante do presente blog deseje que a mesma seja retirada, favor entrar em contato.
Vem a noite e, com ela, a expectativa de véspera de trabalho e a mistura de angústia e alegria pela permanência do "sol escaldante".
Passeando pelo "Fantástico", da Rede Globo, topo com a notícia estapafúrdia: um cidadão de 50 anos, incomodado com o beijo entre duas moças durante o desfile de um bloco carnavalesco na Zona Sul carioca, resolve chamar a polícia. O argumento de que se utiliza é que estaria havendo "sedução de menor", pois, segundo ele, uma das moças parecia ser "menor de idade".
Até que o delegado afirmasse o óbvio ululante inscrito na Constituição da República e introjetado no senso comum de pessoas razoáveis e nas regras de civilidade urbana do século XXI (beijo resultante de ato de livre vontade, sem coação ou violência, não é e não pode ser considerado tipo penal - não é crime; não consta do Código Penal, tampouco de qualquer legislação extravagante), muita confusão ocorreu: um policial foi atropelado e teve o pé fraturado; dois rapazes que defenderam o direito das moças, foram presos; e todo mundo ficou na delegacia até altas horas da noite/madrugada de sábado para domingo.
As moças, finalmente, conquistaram o direito de ter o seu direito reconhecido e puderam ir pra casa. Tambem o denunciante cinquentenário. A identidade deles, assim como a dos jovens detidos, foi preservada, a fim de evitar mais constrangimentos e discriminações.
Mais cedo no mesmo domingo, pela internet, descubro que no atual Big Brother Brasil, (que não assisto e sequer compreendo suas regras) tambem da Rede Globo, há um jovem, de nome Dourado, que afirmara, sobre uma integrante da casa: "se [ela] fosse homem ele tinha quebrado os dedos dela e mandado pro hospital"
Como se não fosse suficiente semelhante manifestação de ódio, consta que o mesmo Marcelo Dourado ostenta em seu ombro uma suástica tatuada - o que a Constituição formalmente proibe -, além de já haver se expressado de forma preconceituosa com relação aos homossexuais.
De forma sintomática, semelhantes atitudes desse rapaz, encarnando a persona (combatida por todas as pessoas comprometidas com os Direitos Humanos) do machão que espanca lésbicas e detesta homossexuais em geral (tem "nojo"), tem incentivado comportamentos igualmente violentos e estigmatizantes por parte de outros jovens que apresentam a mesma estrutura de personalidade e se autointitulam "esquadrão Dourado". Há mesmo uma catalisação da verve homofóbica sobre o Dourado. Veja os comentários que abarecem nesta postagem aqui.
Lésbicas, Gays, Travestis, Transexuais e Bissexuais que são assíduas telespectadoras do programa Big Brother Brasil e especialmente desta versão atual (BBB10) acusam a Rede Globo de televisão de, na edição do programa, haver suprimido da transmissão as partes nas quais o tal Dourado expressa com inteireza a sua verdadeira índole - preconceituosa, violenta, machista, homofóbica, nazista (ler os posts dos blogs lincados neste texto)*.
Ainda pela internet, porém nesta segunda-feira, leio a notícia de que a ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais) emitiu uma Nota Oficial contra o comportamento desse Dourado.
Tambem pela mesma internet e no mesmo dia, vem a notícia do posicionamento do Grupo Arco Íris do Rio de Janeiro (GAI), contrário às falas preconceituosas e agressivas do mesmo Big Brother.
E, ainda, a informação de que Representantes do movimento LGBT em São Paulo já noticiaram ao Ministério Público semelhantes práticas.
Enquanto o público que, independentemente de gostar/acompanhar ou não o tal BBB10 , possui senso de respeito aos Direitos Humanos e aguarda a pronta e eficaz ação do Ministério Público, por meio de sua Curadoria dos Direitos Individuais, Difusos e Coletivos, para fazer valer as normas jurídicas nacionais que proibem exaltação do nazismo (por palavras, manifestos ou uso de seus símbolos), práticas discriminatórias e incitação à violência, a mesma Globo em outras vias e empresas da Rede apresenta atitudes mais consentâneas com o respeito às normas vigentes e aos Direitos Humanos.
Hoje pela manhã, ouvindo a CBN, comentaristas Artur Xexeo, Viviane Mosé e Carlos Heitor Cony discutiram a ridícula atitude do cidadão que chamou a polícia para reprimir um beijo entre mulheres.
Tambem na mesma manhã desta segunda-feira, atraves da TVBrasil, vejo a novela educativa Tecendo o Saber que, sempre que posso, acompanho com prazer e que tem como uma das principais parceiras a Fundação Roberto Marinho, integrante das organizações Globo. E qual não foi o tema da aula exibida, senão o preconceito?
- Pois é. Até parece que foi uma resposta (pedagógica) a esse recrudescimento da mentalidade violenta, preconceituosa, desqualificadora, estigmatizante, autoritária, segregacionista.
Dentre as diversas manifestações preconceituosas mostradas nesse capítulo hoje exibido pela TVBrasil (todas nossas cotidianamente bem conhecidas), foi enfocada preponderantemente a questão do preconceito por motivo da orientação sexual.
O filho do personagem interpretado por Benvindo Siqueira (Celestino, um pequeno comerciante nordestino emigrado para a grande cidade) vem visitar o pai, após muitos e muitos anos sem contato pessoal entre os dois. E, para surpresa de Celestino, seu filho, Celestino José (interpretado pelo ator Rodolfo Mesquita), é gay.
Agora à noite, outra vez na internet, outra notícia sobre o domingo (21/02): O Grupo de jovens LGBTs de Campinas (o E-Jovem) realizou uma caminhada pelas ruas principais de Campinas, culminando com um ato público na Praça Bento Quirino.
Protestavam, sem qualquer carro de som ou trio elétrico, contra a homofobia que os expulsa das escolas e, não raro, levam-nos ao suicídio.
Exigiam o seu direito ao respeito por parte de seus familiares consanguíneos, dos profissionais da educação e da população em geral.
"Um deles chamava para a família a responsabilidade pelos jovens gays que se suicidam. Muitos clamavam por direitos iguais para todos, por respeito, por liberdade", disse Deco Ribeiro, Diretor da Escola Jovem LGBT, em seu blog.
Como se pode ver, a luta entre as mentalidades contra e a favor dos Direitos Humanos está inteiramente em curso no Brasil, mostrando que a nossa Democracia ainda é uma jovem em formação, a depender do comprometimento e da ação de todos nós. Efetiva e cotidianamente.
Não podemos nos esquecer, um minuto sequer que, todos os dias, a homofobia, a estigmatização, o desrespeito para com as mulheres, as lésbicas, os gays, as travestis, as transexuais, enfim, para com o outro, AGRIDE, VIOLENTA, HUMILHA, SEGREGA, MATA.
Por isso, enquanto seus direitos (como os de qualquer outro cidadão) não forem respeitados; enquanto forem alvo de bulling nas escolas e na vizinhança; enquanto forem vítimas de espancamentos por parte de seus pais e parentes consanguíneos; enquanto forem postos pra fora de casa; enquanto forem vítimas de espancamentos, "boa noite cinderela", tiros, empalamento, "estupros corretivos"; enquanto não puderem ter reconhecida jurídica e socialmente sua forma de conjugalidade, ninguem verdadeiramente comprometido com a Democracia e com os Direitos Humanos poderá se manter indiferente, omisso. Pois a omissão é crime: ela alimenta a violência, a intolerância, os assassinatos.
Notas:
*Enquanto redigia este texto, sintonizei na TV Globo justamente no momento em que era exibida a fala do Dourado afirmando (e reafirmando) que quebraria os dedos da moça.
Os sítios referidos encontram-se linkados no próprio texto. Muitos deles tomei conhecimento atraves da comunidade lgbt no yahoo, a cujos partícipes agradeço a constante partilha da informação.
As fotos utilizadas são todas oriundas do blog http://decoribeiro.blogspot.com/2010/02/jovens-lgbt-saem-as-ruas-e-lutam-por.html.
Caso algum/a detentor/a de direitos autorais sobre qualquer fotografia constante do presente blog deseje que a mesma seja retirada, favor entrar em contato.
2 comentários:
Rita, texTAÇO.
beijo do Deco =]
Olá pessoal militantes do E-JOVEM,
Parabéns pelo belo trabalho desenvolvidos e voluntário de vcs, so me lembra qd eu era mais jovem q viajava por este Pais a fora vivendo, lutando, militando pelas nossas causas LGBTT. Como hj n viajo mais, este ano estou completando 30 anos de militancia aos nossos Direitos Humanos LGBTTs e pessoas vivendo c HIV/AIDS em Sergipe e p o Brasil. Como hj estou morando e trabalhando na Bahia em São Sebastião do Passé, a cinco anos atrás fundei um grupo e nós sempre abre a temporada de paradas da Bahia onde colocamos sempre mais ou menos de 50 a 70 mil pessoas em nosso evento de mt paz, amor, carinho, dignidade, visibilidade, respeito e muita luta. Aproveito o ensejo convido representantes desta tão conceituada organização de vcs p estarem presente em nossa V PARADA PELA DIVERSIDADE LGBTT nos dias 27 e 28 de julho e 01 de agosto do corr4ente ano.
Sou Wellington (WELL) Andrade, fundador e Presidente de Honra do movimento pelos Direitos Humanos LGBTTs de Sergipe há 03 décadas, segundo militante pela Diversidade LGBTT mais antigo do Brasil, fundador e coordenador geral do grupo ADAMOR - Associação em Defesa do amor entre iguais em São Sebastião do Passé/BA.
Sem mais p o momento, aguardo o qt antes um breve retorno.
sds homoafetivas,
well Andrade
wellaju@yahoo.com.br
adamor_ssp@yahoo.com.br
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