Trago para cá parte do texto de Geraldo Galindo, publicado no Vermelho.org.br em 07/07/2011. O sítio informa que Galindo é dirigente estadual do PCdoB/BA. Talvez seja importante ressaltar que o fato de transcrever parte de seu artigo não significa que eu concorde com todas as opiniões de Galindo - a quem sequer conheço -, de seu partido ou mesmo do sítio onde foi originalmente publicado.
Meu objetivo é fomentar a reflexão, a discussão. Como brasileira, preocupa-me demasiado tanto o conservadorismo obscurantista demonstrado pela população de meu país quanto o nível de sua capacidade para a construção do pensamento crítico.
Habitamos um país de dimensões continentais, dotado de recursos estratégicos (minérios, água, clima, solo, biodiversidade, criatividade, inventividade, empreendedorismo).
Nos últimos anos, o Brasil vem conquistando ascensão econômica e política no concerto das nações, com propostas políticas democráticas, solidárias e cooperativas, por um lado - dando cumprimento aos princípios firmados em sua Constituição.
Por outro, esse mesmo país se vê corroído por dentro por setores predatórios, suicidas, que apenas veem o aspecto imediatista e individual de suas ânsias por acumulação de capitais e bens, descomprometidos com a coletividade, com o projeto de país constitucionalmente delineado, insensíveis com as consequências de suas ações até mesmo para a viabilidade de suas futuras gerações - seus filhos, netos, bisnetos.
Em meio a essas duas grandes forças, um contexto histórico marcado por relações autoritárias, clientelares, arbitrárias, manipuladoras, elitistas, atravessado por um ranço conservador - filho do autoritarismo, do pensamento único, dos baixos índices de aproveitamento escolar e formação cultural -, que resiste aos princípios democráticos e republicanos o quanto pode, retroalimentado pela força eficaz de sua naturalização invisibilizante, assimilatória e reprodutora.
Por força daquelas características de nossas elites políticas e econômicas acima descritas, associadas ao contexto global marcado pelo império do lucro e da espoliação, o grande lastro dessa grande Nação continental - a população -, se vê condenada à indigência intelectual, ostentando o infamante, imoral e criminoso índice de mais de 50% de analfabetos funcionais - pessoas que, embora tenham passado vários anos nos bancos escolares, sendo promovidas de série a série, saem das instituições de ensino incapazes de compreender o conteúdo de um texto de três linhas que seja.
Esse crime de lesa-humanidade vem sendo praticado contra nossa população já há algumas décadas. O marco inicial pode ser localizado no processo de destruição da qualidade do ensino público, desencadeado pelo regime militar com a supressão das disciplinas reflexivas e a instituição da "pedagogia das cruzinhas". Ali se condicionava o alunado a não exercitar a sua mente, mas apenas marcar uma das várias opções presentes nos testes de verificação de aprendizagem e provas de concursos de seleção (as múltiplas escolhas de tenebrosa memória).
O saldo do aprofundamento no processo de destruição do ensino público de qualidade (o grande indutor na formação da capacidade crítica no seio da população) que se verificou mesmo após a redemocratização, pode ser sentido através dos traços característicos das maiorias presentes em sucessivas legislaturas, parlamentos e executivos afora por esse imenso país, bem como dos interesses patrocinados.
A pergunta que essa realidade no impõe como urgente e inadiável é:
Em um país com as características do nosso, portador dessa chaga educacional, onde os salários e as condições de trabalho dos professores de nível fundamental e médio do sistema público são igualmente imorais, que futuro está construíndo para si e para o seu povo?
Por isso a luta pela aplicação de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) na educação pública; por isso a luta pelo o acesso à banda larga enquanto direito fundamental são política e estrategicamente importantes.
Garantir que as gerações em formação disponham de um sistema educacional efetivamente capaz de formar-lhes humanística e criticamente e não simples mão de obra para o mercado; que sejam aptos a realizar as escolhas que lhes compete nos processos decisórios que participam e precisam participar, cumprindo seu dever-direito cívico é dever de todo cidadão consciente. Como deveria ser a obrigação número um de todo integrante do executivo e legislativo nacional.
Por igual, garantir que jovens das mais distantes e desasistidas partes do país tenham acesso à informação mundial, fora dos filtros dos interesses econômicos dos grandes grupos econômicos e fundamentalistas que controlam os serviços públicos concedidos de difusão de rádio e televisão, além das grandes redes jornais e revistas, em associação com setores dotados de poder político, é de fundamental importância para a construção do Brasil dentro dos princípios fixados na Constituição da República de 1988. É estratégico, política e socialmente, garantir a acessibilidade à informação e à cultura àqueles brasileiros e brasileiras que, embora desprovidos de capacidade de compra, querem furar o bloqueio que lhes dificultam ao impedimento a construção de sua capacidade crítica.
Nada importa mais a aqueles setores predatórios e controladores do que a garantia de que tudo continue como está.
Sobretudo mantendo o ensino público na indigência em que se encontra, asseguram para si a inviabilização do surgimento de cidadãos críticos, informados, conscientes, capazes de exigir, de fazer tornarem-se eficazes os seus direitos.
Mas vamos ao texto que anunciei, pois já me alonguei muito.
Meu objetivo é fomentar a reflexão, a discussão. Como brasileira, preocupa-me demasiado tanto o conservadorismo obscurantista demonstrado pela população de meu país quanto o nível de sua capacidade para a construção do pensamento crítico.
Habitamos um país de dimensões continentais, dotado de recursos estratégicos (minérios, água, clima, solo, biodiversidade, criatividade, inventividade, empreendedorismo).
Nos últimos anos, o Brasil vem conquistando ascensão econômica e política no concerto das nações, com propostas políticas democráticas, solidárias e cooperativas, por um lado - dando cumprimento aos princípios firmados em sua Constituição.
Por outro, esse mesmo país se vê corroído por dentro por setores predatórios, suicidas, que apenas veem o aspecto imediatista e individual de suas ânsias por acumulação de capitais e bens, descomprometidos com a coletividade, com o projeto de país constitucionalmente delineado, insensíveis com as consequências de suas ações até mesmo para a viabilidade de suas futuras gerações - seus filhos, netos, bisnetos.
Em meio a essas duas grandes forças, um contexto histórico marcado por relações autoritárias, clientelares, arbitrárias, manipuladoras, elitistas, atravessado por um ranço conservador - filho do autoritarismo, do pensamento único, dos baixos índices de aproveitamento escolar e formação cultural -, que resiste aos princípios democráticos e republicanos o quanto pode, retroalimentado pela força eficaz de sua naturalização invisibilizante, assimilatória e reprodutora.
Por força daquelas características de nossas elites políticas e econômicas acima descritas, associadas ao contexto global marcado pelo império do lucro e da espoliação, o grande lastro dessa grande Nação continental - a população -, se vê condenada à indigência intelectual, ostentando o infamante, imoral e criminoso índice de mais de 50% de analfabetos funcionais - pessoas que, embora tenham passado vários anos nos bancos escolares, sendo promovidas de série a série, saem das instituições de ensino incapazes de compreender o conteúdo de um texto de três linhas que seja.
Esse crime de lesa-humanidade vem sendo praticado contra nossa população já há algumas décadas. O marco inicial pode ser localizado no processo de destruição da qualidade do ensino público, desencadeado pelo regime militar com a supressão das disciplinas reflexivas e a instituição da "pedagogia das cruzinhas". Ali se condicionava o alunado a não exercitar a sua mente, mas apenas marcar uma das várias opções presentes nos testes de verificação de aprendizagem e provas de concursos de seleção (as múltiplas escolhas de tenebrosa memória).
O saldo do aprofundamento no processo de destruição do ensino público de qualidade (o grande indutor na formação da capacidade crítica no seio da população) que se verificou mesmo após a redemocratização, pode ser sentido através dos traços característicos das maiorias presentes em sucessivas legislaturas, parlamentos e executivos afora por esse imenso país, bem como dos interesses patrocinados.
A pergunta que essa realidade no impõe como urgente e inadiável é:
Em um país com as características do nosso, portador dessa chaga educacional, onde os salários e as condições de trabalho dos professores de nível fundamental e médio do sistema público são igualmente imorais, que futuro está construíndo para si e para o seu povo?
Por isso a luta pela aplicação de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) na educação pública; por isso a luta pelo o acesso à banda larga enquanto direito fundamental são política e estrategicamente importantes.
Garantir que as gerações em formação disponham de um sistema educacional efetivamente capaz de formar-lhes humanística e criticamente e não simples mão de obra para o mercado; que sejam aptos a realizar as escolhas que lhes compete nos processos decisórios que participam e precisam participar, cumprindo seu dever-direito cívico é dever de todo cidadão consciente. Como deveria ser a obrigação número um de todo integrante do executivo e legislativo nacional.
Por igual, garantir que jovens das mais distantes e desasistidas partes do país tenham acesso à informação mundial, fora dos filtros dos interesses econômicos dos grandes grupos econômicos e fundamentalistas que controlam os serviços públicos concedidos de difusão de rádio e televisão, além das grandes redes jornais e revistas, em associação com setores dotados de poder político, é de fundamental importância para a construção do Brasil dentro dos princípios fixados na Constituição da República de 1988. É estratégico, política e socialmente, garantir a acessibilidade à informação e à cultura àqueles brasileiros e brasileiras que, embora desprovidos de capacidade de compra, querem furar o bloqueio que lhes dificultam ao impedimento a construção de sua capacidade crítica.
Nada importa mais a aqueles setores predatórios e controladores do que a garantia de que tudo continue como está.
Sobretudo mantendo o ensino público na indigência em que se encontra, asseguram para si a inviabilização do surgimento de cidadãos críticos, informados, conscientes, capazes de exigir, de fazer tornarem-se eficazes os seus direitos.
Mas vamos ao texto que anunciei, pois já me alonguei muito.
Preconceito linguístico e outros no país do conservadorismo
Vivemos num país assustadoramente conservador e preconceituoso, com opiniões majoritárias da população em favor de posições anacrônicas, muitas delas já superadas nos chamados países avançados.
No Brasil a maioria do povo é contra o aborto, é contra o casamento entre homossexuais, é contra o desarmamento, contra leis que asseguram o estado laico etc. Isso é decorrente, entre outros fatores, por conta de uma influência religiosa ainda muito marcante em nossa sociedade - o que tem travado a aprovação de propostas que fariam o país avançar para um ambiente mais civilizado - e também pela força das dezenas de partidos conservadores presentes na disputa política.
Por Geraldo Galindo*, do Vermelho.org.br
Aqui em Bruzundanga, quando falamos em respeitar os direitos humanos, os direitistas falam que estamos ao lado dos bandidos; quando defendemos cotas para negros e pobres, eles dizem que estamos premiando a ignorância; quando dizemos que o corpo da mulher pertence a ela e ela deve decidir sobre ele, os reacionários dizem que o corpo pertence a deus e que as regras do tal deus é que devem prevalecer e nos acusam ainda de estarmos propondo o assassinato de crianças indefesas; quando se pretende punir os país que surram os filhos, eles vem com o argumento de intromissão do governo em assuntos domésticos; quando propomos a união entre homossexuais e o combate contra a homofobia eles dizem que estamos fazendo campanha para o povo fazer opção pelo homossexualismo; quando defendemos o desarmamento, eles afirmam que queremos desarmar o povo e deixar os bandidos bem armados; quando combatemos o racismo, eles dizem que estamos pregando o ódio entre as raças; se somos contra o ensino de religião nas escolas, falam que somos ateus materialistas e que queremos proibir a bíblia.
Quando defendemos programas sociais para o povo pobre, eles falam em assistencialismo e estímulo à preguiça, quando defendemos pesquisas com células-tronco para a cura de doenças, eles falam que estamos ameaçando as leis divinas; quando bradamos contra o machismo eles dizem que essa é a tradição brasileira; quando queremos investigar os crimes da ditadura eles nos acusam de revanchistas. Como se vê, os preconceituosos e os obscurantistas dos vários tipos têm argumento contra tudo que signifique um mundo mais arejado, mais tolerante, mais civilizado. O pior de tudo é que vez por outras surgem pessoas tidas como de "esquerda", que em tese deveriam estar ao lado de causas libertárias - , assimilando esse tipo de discurso, como a presença de deputados do PT em manifestações públicas contra os homossexuais e contra o direito da mulher fazer aborto.
Recentemente, um livro didático para jovens e adultos distribuído pelo MEC a 4.236 escolas do país reacendeu a discussão sobre como registrar as diferenças entre o discurso oral e o escrito sem resvalar em preconceito, mas ensinando a norma culta da língua. Isso foi o estopim para uma saraivada de ataques os mais reacionários contra a iniciativa que visava entre outros objetivos, reduzir o preconceito existente contra as pessoas que "falam errado".
O já conhecido PIG (Partido da Imprensa Golpista) usou suas ferramentas de trabalho (Globo, Folha, Veja, Estadão) para atacar impiedosamente o projeto. No Congresso Nacional os reacionários do PSDB e DEM foram para o campo de batalha com artilharia pesada contra o ministro da educação. Seria bom que todas pessoas pudessem ler o livro "Preconceito Lingüístico" e outros do professor da UNB Margos Bagno (pode-se baixar na internet). Para os conservadores de plantão, a avançada idéia do MEC de se contrapor à ditadura da "gramática culta" seria estimular a ignorância entre os alunos, quando o objetivo vem a ser exatamente o contrário.
* Geraldo Galindo é dirigente estadual do PCdoB/BA
Um comentário:
Adorei o texto!
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