Hoje é o dia da Parada do Orgulho LGBT do Rio de Janeiro, mais referida pelos veículos de mídia como Parada Gay.
Embora alvo de críticas de parte de daquelas e daqueles que defendem sua maior politização - eu incluída -, vez que a realidade da homofobia é cada vez mais visível, ousada e ascendente, trata-se inequivocamente do maior evento de visibilidade de massa promovido por LGBTTs.
Em apoio - porque ninguém consegue fazer nada sozinho - @s LGBTTs sempre puderam contar com aquelas pessoas capazes de entender que todas tem direito à dignidade e que não é por força da forma do desejo e afeto que alguem pode ser vilipendiado, alvo de ridículo, humilhações, troça, agressões físicas, assassinato (travestis são assassinadas nas noites e madrugadas brasileiras como se fossem bichos sendo exterminados. Aliás era essa precisamente a campanha disseminada por jornalistas de Salvador e de São Paulo, nos anos 80 e 90 e, apesar das tenazes denúncias do ativista Luis Mott, do GGB, jamais foi alvo de qualquer atitude de apuração por parte do Ministéiro Público).
Hoje, quando a cidade realiza a 16ª Parada da Dignidade - nome que eu pessoalmente prefiro, por entender que melhor representa a luta -, vale o apelo para, junto com a alegria, a festa, a celebração, não se perder de vista a realidade que nos marca:
É dentro de casa que gays sofrem mais homofobia
Levantamento no estado mostra que a maioria das vítimas de preconceito na capital já foi agredida por parentes e amigos
POR MAHOMED SAIGGRio - É em casa, onde deveriam se sentir seguros, que homossexuais mais sofrem violência no Rio. Levantamento feito pela Superintendência de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos, da Secretaria de Direitos Humanos do estado, revela que a maioria das vítimas de homofobia na capital já foi agredida por parentes e amigos [Na verdade, apenas reconfirma, pois a revelação na verdade foi feita em 2001, com a pesquisa sobre a “experiência cotidiana de gays, lésbicas e travestis em relação a conflitos, discriminação e violência na região metropolitana do Rio de Janeiro”, realizada pelo Instituto de Estudos da Religião – ISER. Ou seja, passados DEZ ANOS, a violência além de não haver melhorado, encontra-se agudizada]. Hoje, a 16ª Parada Gay em Copacabana celebra conquistas e chama atenção para o preconceito que ainda existe.
Rejeitado pela mãe por ser gay, o ativista Felipe Gomes, 30 anos, conta que já foi mantido em cárcere privado e isolado da família dentro de casa. “Ela me manteve trancado por 20 dias num cômodo nos fundos da nossa casa. Não me deixava nem usar o mesmo banheiro que meus irmãos. Minhas roupas de cama, de banho, tudo era separado como se estivesse contaminado por alguma doença que ela não queria que fosse transmitida para a família”, lembra ele, salvo de seu martírio pelo pai.
“Quando ele soube, me levou para viver com ele. Hoje consigo ver que minha mãe foi tão vítima quanto eu, porque a homofobia foi embutida nela por essa nossa sociedade machista. Só espero que, assim como ela aprendeu a me aceitar, a sociedade também aprenda”, diz.
No levantamento feito pelo governo do estado, o local de trabalho aparece em segundo lugar nas estatísticas de atendimentos do Centro de Referência da Cidadania LGBT da capital.
Formas de violência
Agressões verbais e ameaças são as formas de violência mais recorrentes, com 44,3% e 32,2% das queixas, respectivamente. A cada seis casos denunciados, em pelo menos um a ameaça se concretiza.
Entre o público LGBT, as principais vítimas de agressões são os gays, vítimas em 48,3% dos casos denunciados. Eles superam lésbicas (19,7%) e travestis, com 13,9% das ocorrências registradas no município que, desde 2009, ostenta título de principal destino gay do mundo.
Apoio psicológico para conseguir voltar à rotina
Vítimas das manifestações mais violentas de preconceito contra homossexuais, travestis e lésbicas de todas as idades buscam apoio no Centro de Referência LGBT. Além de receber orientação sobre seus direitos, elas também contam com a ajuda de psicólogos para tentar refazer suas vidas. Isso inclui voltar ao trabalho e até mesmo à escola depois de sofrer agressões.
Espancada por colegas durante uma aula de educação física, a travesti Chaw Johnson, 18 anos, conta que abandonou os estudos por medo de voltar a sofrer violência. “Estava jogando futebol com os garotos quando perdi um gol. Irritados, eles começaram a me empurrar e a puxar meu cabelo, dizendo que eu devia ir brincar de boneca”, lembra Chaw.
“Em pouco tempo, me jogaram no chão e tiraram minha roupa, me deixando totalmente nua. Fiquei com tanta vergonha que comecei a chorar. Como ninguém foi punido, preferi ir embora antes que fizessem de novo”, contou Chaw, que só superou o trauma e concluiu os estudos após passar por sessões de apoio psicológico no Centro de Referência do Rio.
Vítima de preconceito por sua orientação sexual, a lésbica Gil Pires, 34, escapou por pouco de ser linchada na Praia de Copacabana: “Estava passeando com um amigo gay e tivemos que correr muito para escapar de um grupo de pitboys que tentou nos pegar”.
Parada Gay em Copacabana deve reunir 1,5 milhão hoje
A 16ª Parada do Orgulho LGBT do Rio, marcada para hoje, deverá reunir mais de 1,5 milhão de pessoas na orla de Copacabana. A festa começa às 13h, no Posto 6. O Metrô Rio montou esquema especial, com trens extras a cada meia hora, sem transferência na estação Estácio.
Segundo os organizadores da festa, três trios elétricos vão animar a multidão. Estilizados, os trios farão referência ao programa Rio Sem Homofobia, à Liberdade Religiosa e à regulamentação da União Civil entre casais do mesmo sexo. Nesse último, estarão 43 casais que tiveram suas uniões oficializadas recentemente.
Cinco mil doces bem-casados e 2 mil rosas vermelhas serão distribuídos para o público. As flores serão jogadas do alto do trio, cuja atração principal será a travesti Jane de Castro. Ela cantará canções de Roberto Carlos, que declarou ser favorável à união de casais homossexuais.
Do alto do trio Liberdade Religiosa, Mãe Beata e seus filhos de santo farão defumação do ambiente para espantar preconceito.
Um comentário:
Na Parada, do ponto de vista da correlação das forças, constatou-se que cada vez mais antigos representantes de valores costumeiramente chamados de progressistas e integrantes "da esquerda" - república, laicidade, democracia, equidade, não discriminação, justiça social, fraternidade - vem se curvando sob as ameaças dos segmentos mais reacionários e obscurantistas em inviabilizarem suas reeleições.
E, assim, a 16ª Parada do Orgulho Gay do Rio de Janeiro entrou para a história política da cidade e do país como aquela em que os tradicionais aliados - governador, prefeito, deputados - optaram, deliberada e conscientemente, por não se fazerem presentes, preferindo preservar suas imagens de associação à luta pelo reconhecimento da isonomia e da efetividade da proteção à dignidade de LGBTTs, vez que nos encontramos em véspera de ano eleitoral.
É preciso recordar que se trata de processo em curso, não se constituindo em atitude inaugural - o que pode ser conferido com o discreto recuo da deputada Benedita da Silva, apoiadora e grande lutadora por ocasião da luta dos homossexuais de ambos os sexos no congresso constituinte em 1987.
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