sábado, 10 de novembro de 2012

Leitura, qual leitura?

Meu texto do dia 31 - Ativismo, que ativismo? - causou alvoroço.
Determinadas pessoas se sentiram diretamente atingidas pela minha constatação. 

Para quem não leu, a contextualização: No Comunicado de Imprensa do dia vinte e nove de outubro da CIDH-OEA, condenando a violência homofóbica nas Américas e exortando os países a adotarem ações efetivas ao seu enfrentamento, havia a informação do recebimento de denúncia sobre a ocorrência de 18 crimes praticados contra LGBTTs em setembro deste ano no Brasil.

Me pareceu que este não seria o número "real". 

Em busca de informações que esclarecessem minha suposição, me dirigi ao blog Quem a Homofobia Matou Hoje?. Ali pude encontrar a opção "relatórios mensais". Ao selecionar o mês em questão, encontrei a indicação de 33 ocorrências (hoje aparecem 32).

Essa enorme discrepância entre os números me confirmaram aquilo que eu, assim como outr@s ativistas LGBT, já havíamos percebido e, como eu, vinham chamando atenção para o seu caráter equivocado: 


O fato de eu ter utilizado os números constantes do levantamento realizado e apresentado pelo blog Quem a Homofobia Matou Hoje? levou uma pessoa a, numa leitura apressada - muito corriqueira nos meios virtuais -, concluir que eu estava desqualificando o trabalho do pessoal deste blog e, aí, partiu para socializar as suas conclusões unilaterais ao modo viral, inclusive junto ao pessoal do dito blog.

O tom da acusação formulada sustentava, em síntese, que 

1) eu deveria cobrar dos ativistas que se encontram exercendo cargos na esfera estatal, pois eram remunerados para isto; aqueles que realizavam o levantamento para o blog exerciam um trabalho voluntário, portanto, abnegado; 

2) o simples fato de se publicar os relatos desses crimes no Facebook (mídia que eu havia feito referência expressa) constituía uma forma de denúncia, pois, além de a comunidade virtual tomar conhecimento dos fatos, diversos jornalistas buscavam ali notícias para as suas pautas.

Meu principal acusador deixou de ler o último parágrafo daquela postagem, que, por inferência, permitia que se concluísse qual o tipo de crítica que eu estava fazendo afinal:


Não tenho qualquer ilusão de que eu venha, agora, conseguir ser lida no registro preciso de minha mensagem, ou seja, daquilo que estou sustentando. As constantes situações de leitura apressada gerando monólogos em paralelo e mesmo querelas que tenho verificado nos espaços virtuais já  me convenceram de que uma tal pretensão é sobretudo ilusória.

Mas, como já havia antecipado, entendo ser meu dever esclarecer o imbróglio causado pela leitura apressada, apaixonada e deturpada - que, no certo, no certo, não é minha responsabilidade (é que, sinceramente?, me parece tão despropositado, surrealista mesmo, alguém conceber uma tal leitura que...), mas, vá lá uma contribuição para a pacificação de ânimos... Ou não. Nunca se sabe!


Como disse a um dos interpeladores que entraram na onda do primeiro leitor equivocado, sugiro antes de mais, uma nova leitura da postagem.

É que, sinceramente, eu não consigo enxergar que a partir do que ali está escrito seja possível alguém fazer de boa fé uma inferência como a que foi propagada. Ou seja, que de eu estava a criticar e desqualificar o trabalho que vem sendo realizado através do blog Quem a Homofobia Matou Hoje?

Na eventualidade de haver ainda permanecido a dúvida sobre o conteúdo preciso de minha mensagem - mesmo após a segunda leitura sugerida -, repiso o óbvio (a meu ver):

O nome do blog em questão figurava na qualidade de banco de dados.

A crítica era / é dirigida indistintamente a todos/as  os /as ativistas. 

No que respeita a antagonização formulada pelo meu (mal)leitor, de que ativistas exercendo cargos em órgãos de estado são aprioristicamente ilegítimos e desqualificados, enquanto que os que exercem ações espontâneas são, também aprioristicamente, qualificados, bem... #preguiça Eu apresentei a resposta abaixo do comentário.

Por igual, reapresentei minhas restrições quanto a legitimidade de críticas e ações promovidas por alguém no espaço virtual que se utilize de perfil fictício, ocultando sua real identidade.

Mais uma vez a frase de Charles Baudelaire me parece supimpa para exprimir nossos modos de interação:
"No amor,
como em todos os negócios humanos,
o entendimento cordial resulta de um mal- entendido.”
“Nào é senão pelo mal-entendido universal 
que o mundo inteiro se entende.”
                                                                                                                                            
                         Baudelaire*


* Meu Coração Desnudado, Trad. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Ed. N. Fronteira 1981, pág. 106 e 129.

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