terça-feira, 20 de outubro de 2015

A que horas ela volta?, um olhar sobre o filme


Hoje fui assistir ao tão comentado "Que horas ela volta?". Lembro que no Facebook havia lido que fizeram uma programação "especial" para domésticas, acho que antes do lançamento. Eu comentei que o local, dia e horário escolhidos não se coadunavam com a realidade dessas profissionais - à noite, na Zona Sul, em dia de semana. Fui contestada com um "Isso é muito feio" incompreensível, como se o fato de se programar uma exibição para uma categoria profissional tão estigmatizada como as domésticas tornasse esse fato à margem de qualquer crítica, tamanha a sua menemerência.

Pois devo dizer que ainda uma vez destoarei das vozes que se ergueram para aclamar a película. Ao contrário do que se lê no cartaz, definitivamente não achei a produção nem "inteligente", nem "uma pérola brasileira", muito menos "surpreendente". Tampouco achei "impressionante" o desempenho de Regina Casé. 

Na realidade achei a interpretação de Casé simplesmente estereotipada. Embora se tenha tentado realizar um filme de crítica social, a partir do relacionamento patrões x empregada doméstica, que indubitavelmente ainda preserva muito das marcas do relacionamento entre senhores de terras x serviçais (que sempre se pautou pela mais absoluta ausência da noção de direitos), o que se conseguiu, para mim, foi realizar um filme pobre do ponto de vista de sua verossimilhança, com diálogos frágeis, porque estereotipados.

Ainda que toque em várias de nossas muitas históricas tragédias - a da doméstica ou babá que cria o filho da patroa enquanto os seus vivem e crescem desprovidos do convívio e carinho maternos; a do marido e do filho da patroa que desejam sexualmente a filha da empregada; a relação de exploração que se desenvolve sob a hipocrisia da doméstica como "quase da família" (na realidade, quase uma propriedade da família!), a pobreza dos diálogos da empregada interpretada por Regina Casé e o quase silêncio de sua colega de profissão denotam o não domínio da subjetividade das personagens que se desejou tematizar - as domésticas nordestinas.

- Sinceramente? Eu gostaria muito que a produção / direção do filme realizasse exibições em comunidades de trabalhadores negros e nordestinos do Rio e São Paulo, de onde saem a mão de obra que diariamente mantém limpa, organizada e alimentada os lares e familiares das classes médias e alta. E ao final que se pudessem ouvir as opiniões daquelas pessoas que se tentou retratar, mas que apenas reiterou visões estigmatizadas (a absurda ignorância exibida pela personagem central chega a ser caricata, pois descontextualizada em termos geracional. Fosse a doméstica uma senhora de uns setenta anos, aí talvez tamanha alienação e ingenuidade se mostrassem consistentes. Mas não em uma mulher de uns quarenta e tantos anos ou cinquenta).

O que fica de positivo é o fato de o filme documentar o sabido - que as camadas médias e altas brasileiras não convivem bem com a possibilidade dos subalternos ascenderem socialmente, de seus filhos mostrarem-se inteligentes e com projetos de vida que concorrem com os de seus mimados rebentos. Mas isso por si só não me parece suficiente para merecer as adjetivações exibidas no cartaz.










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