O Que Há a Ser Aprendido Com a Tragédia do Japão?

A cultura japonesa valoriza o sentido coletivo; isso facilita a população a enfrentar as catástrofes e adversidades em geral. O problema é visco como algo coletivo, e não individual. Todos se unem para dar enfrentamento à situação. Por isso não se tem muitos saques, pessoas nas ruas desesperadas, gritando... Disse a fundadora da Zen Budista do Brasil, na Band News FM, transmitido agora à noite.

Já o invidualismo suicida, a falta de civilidade da população brasileira, sua pouca adesão às normas gerais; o sentimento de superioridade herdado de nosso passado imperial e escravista; a convicção de que somos superiores ao outro, merecedores de uma distinção toda especial em relação às regras – sejam sociais, administrativas, civis ou penais; a irresponsabilidade e a inconsequência, esses são perceptíveis através dos sempre crescentes números de violência no trânsito; da incontrolável prática de sujar as ruas (que leva a Prefeitura do Rio de Janeiro a consumir volumes imensos de recursos públicos numa inócua tentativa de manter limpa a cidade; recursos que poderiam ser bem melhor aproveitados se, por exemplo, destinados à melhoria do salário dos professores, dos médicos da rede pública); da baixa aderência ao sexo seguro (uso da camisinha); dos costumeiros atos de vandalismo; da baixíssima capacidade de realizar escolhas ponderadas e consequentes, independentemente da faixa etária – vejam-se os números da paternidade e maternidade irresponsável, do recrudescimento dos casos de contaminação por HIV e HPV; de dependência ao crack, à cocaína, ao ecstasy, às anfetaminas, à revelia de todo investimento público em campanhas educativas –, cujas inconseqüências levam ao desperdício de cada vez maior volume de recursos públicos que, contudo, faltam para, por exemplo, que se garanta a total cobertura de exames periódicos como mamografia; para que se tenha uma rede de saúde primária (programa médico da família) eficiente e eficaz, ao invés de mera propaganda política – como por exemplo o caso do município do Rio de Janeiro que mesmo no centro na cidade o Posto de Saúde não proporciona a cobertura prevista em lei e anunciada pelo alcaide através de suas propagandas.

Enquanto persistirmos com esta visão de mundo, nos manteremos no mesmo patamar civilizatório em que nos encontramos: um país continental, riquíssimo em recursos naturais e estratégicos; abençoado pela natureza em sua diversidade, porém habitado por um povo caótico, desprovido de educação básica de qualidade (formação humanística, cívica, crítica, compromissada coletivamente e não meras peças para o mercado de trabalho). Sociedade política onde prevalece o “salve-se quem puder”, a “lei do Gerson”, o improviso, a não previsão nem planejamento, o “jeitinho”, a “carteirada”, o “sabe com quem está falando?”, todos convictos de que temos o incontestável direito a sempre sermos excepcionados na exigência do cumprimento das normativas – seja de trânsito; de habilitação para o manejo de armas de fogo; de condução de veículos; de estacionamento; de preenchimento de cargos públicos; de gestão dos recursos e interesses públicos; de pontualidade; de palavra...

Mas nada disso nos é capaz de tirar o sono ou a alegria com que nos embriagamos ao coma etílico nos finais de semana e durante festejos como Copa do Mundo, Campeonatos Regionais, Nacionais, Carnaval...

Referências:

A fala da monja budista acima citada.
A entrevista com o antropólogo Roberto Damatta, tambem na Band News FM, autor de livro discutindo nossa incivilidade no trânsito.
http://bandnewsfm.band.com.br/conteudo.asp?ID=444199
http://bandnewsfm.band.com.br/pop_audio.asp?MMS=http://www.bandnewsfm.com.br/audio/ALMEIDA_1103.mp3&ID=444199#
MASCARENHAS, João Antonio de Souza. A Tríplice Conexão: Machismo, Conservadorismo Político e Falso Moralismo.
VAZ, Lúcio. A Ética da Malandragem - No Submundo do Congresso Nacional.
SOARES, Luiz Eduardo. Meu Casaco de General - Quinhentos dias no fronta da segurança pública do Rio de Janeiro.
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DaMATTA, Rberto. Carnavais, Malandros e Heróis - Para uma sociologia do dilema brasileiro.
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