O PL 122 e os labirintos de ignorância, má fé, romantismo...
Por Rita Colaço*
Não, não contem comigo para aventuras inconsistentes como a abolição de todas as penas (pena = sanção; não é igual a encarceramento, ok? Encarceramento é apenas uma das várias modalidades de pena). Para mim trata-se de ingenuidade e desconhecimento antropológico, sociológico e penal, embora reconheça uma boa intenção romântica em várixs de sxxs defensorxs que buscam lutar pela "destruição de sistemas de opressão". - Não há sociedade humana passada ou atual que não tenha erigido mecanismos de sanção aos seus desviantes.
Quem acha que nós que defendemos e lutamos pela equiparação da homofobia ao racismo não desejamos ou não damos prioridade
(importância) para as ações educativas, políticas de superação da
dificuldade com a diferença ou é desinformadx, ou está de má fé. Porque
isto não está escrito em lugar algum de nossas manifestações.
Façam um favor a si mesmxs: Leiam antes de falar; se informem. Vejam o que é que realmente contém o PLC 122 em sua versão aprovada em novembro de 2009. - Eu garanto: - Vocês terão uma grande surpresa. E sabe por que? Porque ele apenas (sim, apenas) acrescenta as expressões “orientação sexual” e “identidade
de gênero” na atual Lei de Racismo (Lei 7.716/89) e acrescenta a
punição da repressão à livre expressão da afetividade das pessoas quando
isso for permitido às demais (isso relativamente a todos os critérios
da Lei de Racismo).
Agora, você quer saber por que nós defendemos a equiparação da homofobia ao racismo?
Nós defendemos a equiparação porque:
A) trata-se de crime da mesma
natureza;
B) é o que determina a Constituição
(art. 5º, XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos
direitos e liberdades fundamentais);
C) Não é possível que algumas
discriminações sejam punidas de uma forma e outras de outra - isso seria
hierarquizar as estigmatizações. Embora haja quem a defenda, nós em
absoluto concordamos com essa perspectiva e a vemos como altamente
ofensiva.
Isso não quer dizer que não concordamos com a defesa
da superação da pena de encarceramento como a pena privilegiada em nosso
sistema penal. - Apenas sustentamos que a homofobia não pode ficar
esperando seja modificado todo o sistema ou ser contemplada
legislativamente de maneira a hierarquizar as modalidades de
práticas de desqualificação.
Defendam a modificação de todo o nosso sistema
de sanções criminais, aproveitem que se encontra no Congresso um novo
projeto de Código Penal em tramitação e vão encontrar em nós vigorosxs
defensorxs. Mas não venham querer insistir que devamos nos contentar que
a homofobia seja combatida por penas alternativas ou somente por ações
educativas.
Enquanto não mudar o sistema penal brasileiro, é a
equiparação ao racismo que queremos. - Nem mais, nem menos. Mas contem
conosco para mudá-lo, quando pararem de reivindicar não encarceramento
apenas para casos de homofobia e passarem a lutar pela transformação
global de nosso sistema de penas!
Sugestões de leitura:
http://www.plc122.com.br/plc122-aumentaria-estado-penal-minimo/#axzz3D9dXRs4P
http://pauloriv71.wordpress.com/2013/12/19/acao-direta-de-inconstitucionalidade-por-omissao-homofobia-e-transfobia/
http://pauloriv71.wordpress.com/2014/07/30/historico-das-acoes-do-stf-que-visam-a-criminalizacao-da-homotransfobia-e-agradecimentos/
http://jus.com.br/artigos/24443/o-abolicionismo-penal-e-a-realidade-brasileira/2
___________
* Rita Colaço (responsável pelos blogs www.comerdematula.blogspot.com e www.memoriamhb.blogspot.com) é doutora em História Social e mestre em Política Social, ambos pela UFF, e bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela UFRJ. Iniciou suas pesquisas sobre a questão LGBT no Brasil em 1984 e o ativismo em 1979, com a fundação do GAAG (Grupo de Atuação e Afirmação Gay) em julho desse ano, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense.
http://jus.com.br/artigos/24443/o-abolicionismo-penal-e-a-realidade-brasileira/2
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* Rita Colaço (responsável pelos blogs www.comerdematula.blogspot.com e www.memoriamhb.blogspot.com) é doutora em História Social e mestre em Política Social, ambos pela UFF, e bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela UFRJ. Iniciou suas pesquisas sobre a questão LGBT no Brasil em 1984 e o ativismo em 1979, com a fundação do GAAG (Grupo de Atuação e Afirmação Gay) em julho desse ano, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense.
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